domingo, setembro 18, 2005

A Lei Natual

A LEI NATURAL
614. Que se deve entender por lei natural?
"A lei natural é a lei de Deus. É a única verdadeira
para a felicidade do homem. Indica-lhe o que deve fazer ou
deixar de fazer e ele só é infeliz quando dela se afasta."
615. É eterna a lei de Deus?
"Eterna e imutável como o próprio Deus."
616. Será possível que Deus em certa época haja prescrito
aos homens o que noutra época lhes proibiu?
"Deus não se engana. Os homens é que são obrigados
a modificar suas leis, por imperfeitas. As de Deus, essas
são perfeitas. A harmonia que reina no universo
material, como no universo moral, se funda em leis
estabelecidas por Deus desde toda a eternidade."
Kardec, A. Livro dos Espíritos

É gratificante abordar o tema da Lei Natural.
Estes três itens de O Livro dos Espíritos não deixam dúvida de que a Lei Natural é o aspecto mais compreensível da Lei de Deus. Estas respostas declaram que busca o homem a felicidade de modo equivocado e que por isso sofre.. Esta lei é intrínseca à criação, sendo por isso automática e autocrática. Ela entra em funcionamento tão logo o gatilho seja acionado. Acionar o gatilho é contrapor-se ao princípio da lei. Isto é tão simples quanto o automatismo da lei da gravidade ou da terceira lei de Newton.
Se é própria da criação, a Lei encontra-se situada num patamar acima de nossa relatividade. Não pode ser alterada, não tem tergiversações e nem interpretações. É elástica por que é temperada pela misericórdia, todavia, de acordo com a questão 616, Deus não se engana, o que está em consonância com o ensinamento paulino em Gálatas 6:7.
O automatismo da Lei impera dos níveis mais simples ao mais complexos da criação. O ser humano necessita desvincular-se de ações compulsivas que lhe conduzem à reações automáticas da lei e o levam a um ciclo que se alimenta em si mesmo.
Hoje eu dei uma aula na Escola Jesus Cristo, na Sala Clóvis Tavares sobre este exato tema e a reflexão da turma fixou-se nestes aspectos.
Para facilitar e para tocar num ciclo comum a quase todos, falamos da compulsão de comer.

Comer compulsivamente > leva a um aumento de metabolismo > que conduz a uma necessidade calórica > que leva-nos a comer mais.

Assim como o fato de comer compulsivamente fecha-se num ciclo que não se resolve a não ser por ação da própria vontade do sujeito, tudo requer a nossa participação ativa para que o ciclo vicioso seja rompido. Errar conduz a mais erro.
Parar de errar é muito mais duro do que a simples decisão de cometer ou não a ação errada. Se estamos envolvidos na compulsividade , somos vítimas de um automatismo biológico sério do qual só nos livraremos com ajuda espiritual e muitas vezes com ajudas de companheiros idealistas.
Recordo-me de que meu tio, David Mussa, contáva-nos uma antiga lenda árabe. Numa praia moravam gralhas que viviam a sua vida mesquinha com seus vôos rasantes, comendo peixes nos barcos e negando-se a buscar os altos vôos dos pássaros.
As águias por sua vez, viviam em altíssimos vôos nas amplitudes e raramente ousavam pousar na praia.
Numa destas raras oportunidades, as gralhas fizeram um malicioso convite às suas semelhantes para um banquete. Após refestelar-se em lauta refeição, as águias foram convidadas a ligeiro descanso, antes de retornar aos céus. Mas após este descanso, que se prolongou demais, por causa do sono causado pela digestão difícil, foram convidadas a novo alimento. E assim permaneceram alguns dias sem voar, comendo junto com as gralhas, negando-se a assumir a sua verdadeira condição de aves libertas para o infinito azul.
O tempo passou e as águias passaram a viver como as gralhas e já nem se recordavam de suas habilidades biológicas para o vôo.
Um dia, uma das águias já obesa e lenta, viu um bando migratório de águias, no azul distante a singrar os céus mansa e elegantemente.
Ao vislumbrar a sua origem nobre, ela foi acometida por uma crise de melancolia e nostalgia, que a fez submeter-se a uma dieta rigorosa e de treinos dos músculos das asas, que estavam enrijecidos. Esta dieta e os exercícios foram muito dolorosos e demorados. Muitas vezes caia em desânimo frente à zombaria das gralhas e das águias-gralhas.
Um dia, bem mais magra, conseguiu alçar vôo. Seu esforço começou a ser seguido por outras, às quais estimulava e ensinava, sob o protesto e o desprezo faz gralhas.
Algum tempo depois, todas haviam retornado ao céu, tudo pareceu não passar de um sonho...
Somos águias vivendo como gralhas. Precisamos encetar os nossos esforços na dieta de nossos desejos e nos exercícios espirituais para que possamos fletir novamente nossas asas do espírito para o grande vôo da alma. Disse-nos Santos Dumont, em mensagem psicografada por Chico Xavier e inserida em Trinta Anos Com Chico Xavier, de Clóvis Tavares, meu pai: "Não há vôo mais divino que o da alma".
O que difere esta lenda de Fernão Capelo Gaivota e a Lenda da Águia e da Galinha, difundida por Leonardo Boff, é que aqui há a queda, a vida no ciclo vicioso do pecado, a nostalgia da condição esquecida, a dieta e os exercícios e a ascensão espiritual.
Lutemos, pois, para nos descondicianarmo-nos de nossos automatismos, de nossas compulsões, de nossas viciações, para que possamos, movidos pela nostalgia, iniciar os esforços, a dieta e os exercícios para a ascensão da alma.

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei mto do texto, pai...
A lenda realmente é linda.
Bjux