quarta-feira, abril 18, 2007

Sesquicentenário de "O Livro dos Espíritos"

Há um século de meio, justamente num 18 de abril como hoje, a humanidade passou a contar com um código, um questionário que abrange todas as possibilidades de questões apresentadas à nossa razão e respondidas por uma inteligência supra-racional. A razão humana foi coordenada por Allan Kardec. As respostas foram dadas por uma plêiade de espíritos superiores coordenada pelo Espírito de Verdade e recebidas por meninas ainda adoescentes, sem maldade, que captaram com pureza as sólidas concepções filosóficas ali contidas em cerca de mil quesitos.

Esta foi a promessa de Jesus, feita no Evangelho de João e cumprida após dezoito séculos.

Disse uma vez Dr. Bezerra de Menezes que precisaríamos estudar por cem anos detalhada e profundamente "O Livro dos Espíritos" para vivermos numa humanidade melhor. Já estamos
há 150 anos estudando o mesmo e ainda não somos uma humanidade transformada.

Estudemos pois, abracemos pois "O Livro dos Espíritos", divulgemos esta obra que esclarece e consola, aceitando o convite de Dr. Bezerra de Menezes para finalmente, converter a nossa sociedade de imperfeita em uma sociedade melhor.

domingo, abril 15, 2007

A Páscoa de todos os tempos


Flávio Mussa Tavares

A sofisticação de nossa sociedade fez com que nós nos contentássemos com o conforto que o capitalismo nos vem oferecendo. São mil maneiras de nos sentirmos à vontade com a vida, preguiçosamente acomodados e nervosamente apressados com a necessidade de enriquecer e fazer melhorias na nossa vida e nas nossas posses.

Estamos retornando ao Egito de todos os tempos. Não ao Egito histórico e geográfico, que cresce às margens dadivosas do Nilo, sob os auspícios dos poderosos faraós, mas ao Egito metafísico, imagem de nossa prepotência materialista.

Um dia, por uma ordem misteriosa, Moisés fez o seu povo abandonar seus haveres na terra da servidão e lançar-se a uma aventura no deserto, apenas para obedecer a uma ordem e cumprir uma promessa. Deixem tudo. Estas casas, estas terras não são nossas, são dos nossos opressores. Acompanhem-me em direção à terra da promessa, onde viveram nossos pais, além do mar vermelho, além do deserto...

Diante de sinais surpreendentes a massa o seguiu para a jornada longínqua e de tal maneira essa viagem se prolongou, com muitos percalços, que as pessoas duvidaram e tiveram saudade de seus pertences materiais, de sua vida acomodada à terra das maravilhas materialistas e à adoração aos ídolos que lhes facultava benesses materiais e prazeres fáceis. Esses ídolos priorizavam as paixões, pois eles mesmos eram viciosos. Alimentar a ira, a sensualidade e a cobiça fazia parte de um projeto de adulação aos deuses de pedra e da impiedade.

Moisés então psicopictografou nas pedras do Sinai dez artigos que basilavam a conduta humana na adoração a Deus e na retidão de comportamento ente os homens, com respeito e equidade.

A Páscoa é justamente a travessia psicológica do Egito metafísico das paixões e dos vícios capitais da alma humana de todos os tempos, para a terra prometida, para a libertação da servidão. Essa passagem é de longa duração, entremeada de perigos e nostalgia das facilidades do Egito. Ela faz com que nos percamos no desejo de retornar à aparente segurança da servidão. Ela faz com que venhamos a ter medo à liberdade.

Erich Fromm, psicanalista alemão que associou o método freudiano à análise marxista da sociedade considerava que o ser humano tem medo à liberdade, tema aliás de um de seus livros. "A história da humanidade é a história da busca da individuação e da aspiração de liberdade", diz Fromm, sinalizando para a sua concepção amalgamada das teorias marxista de sociedade e freudiana da psique humana. O medo à liberdade pode ser visto como o medo do oprimido, do pássaro que não quer voar para além dos limites do viveiro e o medo do opressor, que não quer perder o seu poder. Ambos vivem, em posições diametralmente opostas, mas igualmente prejudicadas, o medo à esse dom divino que é a liberdade. No Egito, alguns escravos tiveram medo de deixar suas casas e se aventurar no deserto. E a classe aristocrática egípcia teve medo de perder seus servos humildes e mansos.

Nos nossos dias a "egiptificação" de nossa sociedade produz um retorno voluntário ao estado de servidão. A Educação para a Servidão está na polaridade inversa da educação para a liberdade.

A história tem sido um fluxo e refluxo de nossas estados de retorno à servidão e alguns poucos surtos de busca de liberdade.

As avenidas largas que nos conduzem à servidão são sempre lindas e sofisticadamente ornamentadas pelos profissionais de marketing e propaganda do materialismo e da educação para a servidão. Utilizam-se da mídia escrita, da falada e televisiva, além da internet, empregando técnicas refinadas de neurolinguística, com a finalidade de formatar as mentes dos indivíduos, notadamente os jovens para se tornarem adoradores da ilusão. As mensagens subliminares constantes de todos os jogos e filmes visam a nos fazer cada vez mais tolerantes com os valores egípcios e cada vez mais descrentes da possibilidade de se cumprir leis divinas no mundo.

Os pecados capitais são a inversão polarizada do decálogo divino. É muito fácil tender psicologicamente para os chamados pecados capitais, por que eles são atavismos gravados em nosso subconsciente nas épocas imemoriais de nosso passado egípcio. Digo passado egípcio, não me referindo, obviamente a uma hipotética encarnação nossa nas férteis terras marginais do Nilo, mas a uma memória de nosso tempo em que vivemos na era da servidão, da idolatria e da supervalorização das paixões e dos bens materiais.

Que época é essa? A dos faraós? Não! É justamente essa época em que vivemos quando o refluxo cíclico à nossa egiptificação nos conduz a um tempo jamais visto de materialismo e de convite ao individualismo e a sensualidade. Jamais em época alguma da humanidade os valores materialistas ousaram tanto, de modo a "enganar até os escolhidos".

Politeísmo pragmático é o que vivemos hoje. Idolatria aos deuses do mercado. Mamon é o grande deus do mercado financeiro. Mamon é o rei do mundo e quase todos lhe servem, já que é impossível servir à ele e à Deus.

Não se honra mais a memória de seus pais.

A astúcia, levando-nos a idéia de que é preciso "levar vantagem em tudo", transformou quase que toda a humanidade em ladra.

O adultério banalizou-se e já não se sente culpa pelo desmantelamento de uma instituição fundada desde os primórdios.

Assassinar é um jogo, desde os videogames, passando pelo gosto de filmes de violência até as vias de fato, produzindo emoção mórbida em muita gente.

Mentir virou uma arte e os jogos de pôquer da vida, onde o blefe, a mentira faz enriquecer, os reality shows, onde o público hipnotizado escolhe os mentirosos como seus ídolos petrificados na imolação da justiça frente a infâmia.

A cobiça é a regra básica de Mamon, fazendo do gosto ao luxo o desejo de prazer e da preguiça, as molas mestras de sua enganação.

Converter o vício da terra da servidão em virtude da terra da promessa é a maior arte dos que crêem na Páscoa. Não apenas na libertação de um momento, mas a libertação atemporal. Pessach é a passagem através do deserto. Deserto é lugar de aridez, de solidão, de abandono, de secura de alma, de conflitos, de nostalgia da servidão, de vontade de retornar ao passado de erros, de quedas na idolatria e na sensualidade, de vergonha de nossa indolência, de nossa covardia e de nossa cupidez.

Mas acima de tudo é lugar de bênção, de maná,de graças dos céus, de oásis auspiciosos e de promessa esperançosa. Perseverar até o fim, este o nosso propósito máximo.

Páscoa, educação para a liberdade. Não para a liberdade de seguir o erro, de seguir o atavismo, que é na realidade escravizar-se, retornar à servidão. Mas liberdade de resistir, de recuar diante da tentação, de criar novas tendências virtuosas, substituindo os velhos ciclos viciosos de nossa alma. É preciso frear o processo de corrupção de valores intrínsecos do nosso ser imortal e buscar a indestrutibilidade de nossa verdadeira essência no prazer de não pecar, no prazer de ser simples, no prazer de ser humilde, no prazer de ser brando, no prazer de ser sincero, no prazer de ser corajoso e no prazer de ser fiel até o fim.

sábado, abril 07, 2007

Variações sobre a Epístola de Tiago sobre a Fé e a Razão



Mostra-me a tua fé sem obras e eu te mostrarei a minha fé pelas minhas obras. Tg 2:18




Apresenta-me a tua certeza no Amor de Deus sem convertê-la em ações beneméritas e eu apresentarei a ti a minha certeza no Amor de Deus representada pela minha bondade.


Fala na certeza de tua salvação sem que isso transforme o teu caráter e eu te mostro a certeza de salvação através da mudança de meu caráter.


Mostra-me a certeza de que Deus te conhece pelo nome sem que necessites realizar nada, que eu te mostro que Ele passou a me conhecer por que eu procuro realizar algo em favor da instalação do Seu Reino de Amor.


Se me queres demonstrar Piedade sem perdão, eu te mostro a minha Piedade através de meu intuito de perdoar.


Se me queres mostrar a tua Esperança sem humildade, eu te mostro a minha Esperança por intermédio de minha humilhação.


Falas de tua religiosidade sem fraternidade e eu quero apenas através da fraternidade exercitar a minha religiosidade.


Se te dizes arrependido por palavras, vem que eu te mostro o meu arrependimento pelas minhas reparações.


E se tens coragem sem saberes sofrer, eu te apresento a minha coragem por meio de minha tolerância.


Se, enfim, clamas tua Salvação, sem reconhecer que o Amor de Deus é tão imenso que indistintamente, a todos abraça,


Se reconheces-te salvo a partir da condenação de teu irmão,


Se o ponto de referência de tua salvação é a perdição dos teus amigos,


Eu te mostro que entendo e quero a Salvação de toda a criação, num inefável amplexo cósmico que a todos reabilita na sucessão de reencarnações com vistas a grande reconciliação com o Eterno.




Flávio Mussa Tavares

quarta-feira, abril 04, 2007

A A R R O G Â N C I A DOS M A U S




Clamam, porém Ele não responde
Por causa da arrogância dos maus.
Jó 35:12



O texto de Jó, afirma que Deus não responde aos que clamam por ele, por causa de sua arrogância.

Temos assim três categorias: o clamor, o silêncio de Deus e a arrogância.

Em primeiro lugar há que se considerar o clamor. Que é clamar?. Segundo Houaiss, em uma de suas acepções é: “rogo ou queixa proferida em altas vozes”.

Seria errado clamar a Deus? Diz o profeta Isaias no início do capítulo 58: "Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta...". Isso nos leva a reconhecer que é justo clamar a Deus, pois ele nos conhece até o mais profundo de nossa alma, ele nos perscruta os sentimentos, como diz Davi: “ Senhor, tu me sondas, e me conheces.” (Sl 139:1). Se Ele vasculha nosso interior e conhece nossa angústia, há de nos encorajar em nosso clamor, pois nesse momento estamos sendo sinceros.

O tom da voz daquele que fala a Deus está muitas vezes na medida da angústia. A expressão “clamar” é empregada muitas vezes no contexto de um grande sofrimento seguido de um desesperado pedido de socorro. O Rei Davi canta em seu salmo: “Então clamaram ao Senhor na sua angústia, e os livrou das suas dificuldades. ”Salmo 107.13

Por que então ocorre o silêncio de Deus, descrito por Jó? Alguns versos bíblicos revelam esta possibilidade de nosso clamor ser ignorado por Deus:

1- Então naquele dia clamareis por causa do vosso rei, que vós houverdes escolhido; mas o Senhor não vos ouvirá naquele dia.( I Samuel 8.18): Nossas escolhas são livres e após determinadas opções é necessário que se sofra o efeito gerado pela nossa livre escolha. E o intuitivo texto é claro: “nesse dia, ele não nos ouvirá, pois é dia da reação necessária.

2- Clamaram, mas não houve quem os livrasse; até ao Senhor, mas ele não lhes respondeu.( Salmos 18.41);
Estou cansado de clamar; a minha garganta se secou; os meus olhos desfalecem esperando o meu Deus. (Salmos 69.3); Então clamarão a mim, mas eu não responderei; de madrugada me buscarão, porém não me acharão. (Provérbios 1.28) :
Esses três versículos são também demonstrações de segunda vista de Davi e de seu filho Salomão. A resposta às orações parecem não acontecer pois muitas vezes pedimos de modo errado, como ensinou S. Agostinho: Petimus mala.
No salmo 18, observa-se a resultante de uma ação voluntária, a reação é necessária e provavelmente a ajuda espiritual virá para o nosso socorri, para a nossa capacidade de suportação, mas não para nos livrar das responsabilidades.

No salmo 69, existe a prova da paciência. Nós temos que aprender a esperar e a perseverar. Quantas vidas temos desperdiçado bênçãos espirituais ofertadas com fartura. Tempo, espaço, recursos financeiros, saúde, conhecimento, suporte familiar, ambiente social favorável, religião...É necessário então, que os nossos amigos da espiritualidade que velam por nossa felicidade, nos promovam uma vida de espera, de paciência, de dificuldade, para que registremos em nossa alma as reações que ainda não nos são conhecidas. Aprender a Esperança é um exercício da alma. Só se aprende vivendo.
E quanto ao texto dos Provérbios, trata da busca em hora errada, tardia. Existem coisas que só podem ser obtidas em momentos determinados. Existe uma hora de aprender e uma hora de sermos testados. Não se pode pedir explicação a professora na hora da prova. Ela é professora, mas aquela hora é de teste, de provação.

Outro ponto, também registrado por S. Agostinho é o de nós pedirmos para nós, sendo irredutíveis e incomplacentes com o próximo. Petimus mali, é o que pede sendo mau em seu interior. Pede, mas sem humildade, pede, mas pede com egoísmo, quer para si, não divide, não tem compassividade, não sabe esperar, não sabe reconhecer que é igual aos demais. O que tapa o seu ouvido ao clamor do pobre, ele mesmo também clamará e não será ouvido. (Provérbios 21.13)

Mesmo as orações intercessórias podem ser em momento indevido. Muitas pessoas que recebem orações não estão no momento certo para receber a ajuda. Alguams orações podem ser inclusive, segundo nos revela André Luiz, em Obreiros da Vida Eterna, refratadas, isto é redirecionadas para outras pessoas em estado real de necessidade e que não receberam orações intercessórias. A justiça de Deus é perfeita e nenhuma energia se perde. Por isso diz o profeta Jeremias:

Tu, pois, não ores por este povo, nem levantes por ele clamor nem oração; porque não os ouvirei no tempo em que eles clamarem a mim, por causa do seu mal. (Jeremias 11.14)

O silêncio espiritual é uma possibilidade razoável.
Não pode haver resposta para o que não quer escutar a verdade. A arrogância é a prepotência. Um homem prepotente considera que tem força e poder suficiente para se bastar. Por que então pede? Por alguma forma de hipocrisia. O arrogante é vaidoso, não pode descer de seu trono de glória para fazer uma súplica e se faz é puramente um teatro. A arrogância ainda mescla o egoísmo e a hipertrofia do ego. Não pode ver nenhuma barreira ao seu objetivo, considera-se importante demais. É daqueles que gosta de dizer: “Você sabe com quem está falando?” ou “Eu tenho um nome a zelar”. O elevado conceito que tem de si mesmo, associado a um desprezo pelos demais impede qualquer forma de diálogo com as forças espirituais.

O espírito auto-centrado não recebe resposta ao clamor, que pode provavelmente ser um clamor teatral, nada ressonante aos ouvido de Deus.O orgulho introduz um ruído intransponível na comunicação entre o ser humano e Deus. Este silêncio de Deus exposto no texto de Jó : “Clamam, mas Ele não responde por causa da arrogância dos maus”, refere-se também a uma impossibilidade real de que os altos planos da criação ouçam os reclamos dos que já se consideram portadores de poder autônomo. Pedir é antes de tudo um ato de humildade.
Escutar um pedido é a sintonia da humildade de quem pede com a bondade de quem escuta. A falta de um dos fatores aborta a comunicação. O prepotente não é afeto a pedir por que não se acha em necessidade.
O seu clamor é apenas ritualístico, mostruário da vitrine das religiões vazias. A arrogância, filha dileta do Orgulho é um estado de alma que reproduz um momento metafísico dos anjos decaídos, que impossibilitados de serem os portadores de todo o poder de Deus, rebelaram-se contra a Criação, criando um motim que teria resultado o nosso universo físico, segundo as concepções ubaldianas.
Longe de ser uma contradição ao conceito doutrinário da criação “simples e ignorante”, o conceito ubaldiano da “queda” introduz um forte componente de responsabilidade espiritual de todos nós, tornamo-nos simples e ignorantes por livre escolha e é necessário que resgatemos através de nossas vidas sucessivas a nossa condição inicial .
Clamar verdadeiramente e com fé , é um último ato de nossa indigência espiritual, de seres que já vestimos a veste de filhos e que hoje descemos ao nível sub-humano de guardadores de porcos. Purifiquemo-nos para que o nosso clamor seja escutado e que sejamos justificados.