domingo, maio 09, 2010

DUAS MÃES SURPREENDENTES




DUAS MÃES SURPREENDENTES


Flávio Mussa Tavares


A singela homenagem que fazemos em nossa Escola Jesus Cristo às Mães tem como ícones duas Mães surpreendentes que fizeram de sua maternidade uma devoção à humanidade e uma irradiação do amor de Deus. Viveram as duas Mães expressões inéditas da maternidade. Não digo inéditas no sentido de que jamais houve casos semelhantes aos que elas viveram, mas do ponto de vista, que se houve, não foram registrados como estes o foram. E para a glória delas e para a glória de seus filhos, fazemos nossa homenagem a todas as Mães nas pessoas destas grandes mulheres.

Trata-se de Nina Arueira e Maria João de Deus. Viveram ambas experiências peculiaríssimas nunca antes descritas na literatura espírita.

Nina Arueira fora uma jovem romântica, meiga, doce com as crianças e que sentia-se mãe a priori. Ela tornou-se mãe imaginária de um pequeno marinheiro, uma foto de revista. Deu a este marinheirinho o nome de Lill. Escrevia cartas para ele, mandava recadinhos dele nas suas cartas para o meu Pai, Clóvis Tavares que à época era o seu noivo e que morava no Rio de Janeiro. Paralelamente a este romantismo, a esta maternidade onírica, vivia a pequena Nina uma luta política e árdua, travada contra os empresários escravocratas de nossa região. Escreveu em jornais locais, críticas ácidas contra a exploração do homem pelo homem e brandia então, junto com Clóvis a bandeira do bolchevismo, ideal de suas vidas. Todavia, travou ela, conhecimento com Virgílio Paula, um amorável benfeitor de sua vida. Ela a acolheu, e ensinou a ela as belezas do Evangelho. Revelou à Nina um Jesus amigo dos pobres e das crianças. Revelou a ela um Jesus complacente com os pecadores, mas enérgico e incisivo com os poderosos de então. Ela passa a amar a este Cristo. E sonhando com seu filho e com o mundo mais justo, desencarna em março de 1935 em casa do vovô Virgílio. Com a sua desencarnação, Clóvis também abandona a política materialista e abraça os ideais de Nina sob as vistas de Virgílio Paula. E Nina chega ao mundo espiritual e é recebida por seu filho Lill. Um espírito desejoso de tornar-se criança, reduziu o seu perispírito e fez-se Lill. Corporificou-se como o filho de Nina Arueira. E foi educado por Nina no Plano do Espírito, para que pudesse reencarnar como filho de Clóvis. Ela educou-o na vida espiritual, para entregá-lo a outra Mãe, que foi a minha Mãezinha Hilda, que anos mais tarde vem a consorciar-se com Papai. Chico Xavier psicografou um poema de Lill retratando a forma amorosa com que Nina Arueira educava o pequeno Lill na vida espiritual:

DE UM FILHINHO ESPIRITUAL

Papai, quando chega a noite,
Diz Mamãe banhada em luz:
-Vamos Lill, orar por ‘ele’
E, preces ao bom Jesus!

Ajoelhados na fé,
No caminho redentor,
Novamente, de mãos postas,
Oremos por ‘nosso amor’.

Diz Mamãe: Daí-lhe, Jesus,
Do vosso divino pão!
E eu digo:-Do pão de luz
Da vossa consolação!

Mamãe roga:-Daí-lhe Mestre,
O espírito de servir.
E eu peço:-Com forças novas
Para as glórias do porvir.

Mamãe pede:-Mestre Amado,
Ajudai-o a caminhar.
E eu digo:- Inspirai-lhe a vida
Nas bênçãos de nosso lar.

E assim, nós ambos pedimos
Na fé que nunca se esvai
A bênção do Bom Jesus
Às suas provas de pai.

Que Deus lhe conceda sempre
Coragem para a missão
É o que deseja, Papai,
O filho do coração.

Lill.’

Maria João de Deus, Mãe de nosso querido Chico Xavier também vivenciou uma experiência de maternidade inteiramente desconhecida até então. Mãe biológica de Chico Xavier, que em 1915, quando o pequeno Chico tinha apenas 5 anos, desencarna. Vai morar com a sua madrinha que lhe impôs uma vida de extremos padecimentos físicos e morais indescritíveis. A bondosa Maria João de Deus passa a visitar o seu filho diariamente e a educá-lo com conselhos, admoestações, instruções de ordem geral e de ordem espiritual, com vistas a formar o espírito sábio e humilde do futuro grande médium brasileiro Francisco Cândido Xavier. Uma Mãe desencarnada educando um filho na Terra. Este é o ineditismo e a singularidade extrema desta maternidade de Luz. Maria João de Deus, apesar de iletrada em sua última romagem terrena, é um espírito de alta envergadura moral e intelectual. Astrônoma de outras épocas, quando tinha trânsito livre nos luxuosos salões das cortes da Europa, renasce filha de lavadeira na cidade de Santa Luzia do Rio das Velhas, na região metropolitana de Belo Horizonte. Iletrada e também pobre lavadeira como sua mãe, costumava perder horas a admirar o céu estrelado, como a recordar o tempo em que o admirava com olhar científico. Humilhada pela vida, jamais revoltou-se. E esta lição de humildade, ofereceu ao pequeno Chico, jamais concitando-o à revolta contra os que o humilhavam. E como que, conhecendo o capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, ensinava ao pequeno sofredor, a justiça das aflições humanas, demonstrando que consolar verdadeiramente é dar a conhecer que não há injustiça na Terra. E que toda aparente injustiça é sabiamente reaproveitada pela Lei de Causa e Efeito numa equação de perfeita justiça.
Clóvis Tavares escreveu sobre Maria João de Deus, uma pequena biografia inserta no livro “Tempo e Amor”, que contém mensagens psicografadas por Chico Xavier na Escola Jesus Cristo, de espíritos campistas e por espíritos amigos de nossa casa. Trata-se de “Breve Notícia de Uma Grande Alma”.
Escreveu papai também um belo poema para a Mãe de Chico Xavier, sobre quem vou fazer uma revelação, que já não é mais revelação, pois já é sabido de muitos. Maria João de Deus é a mesma Ana de Samaria, criada de Lívia Lêntulus, esposa do Senador Públius Lêntulus. Era amiga e confidente da grande alma que foi Lívia, que viveu um isolamento social em seu próprio lar, vítima que foi de uma calúnia perversa. E Ana, a nossa querida Maria João de Deus, foi a sua companhia constante, que lhe ensinou sobre Jesus e que por alguns anos, a sua única companheira. Mais tarde, empresta suas vestes humildes à sua senhora, para que esta pudesse comparecer a uma reunião cristã, quando então é presa e levada ao martírio do Coliseu, devorada por fellinos ferozes. Depois deste fato, Públio reformula a sua vida e migra de Roma para a cidade de Pompéia onde viveria com Ana e sua filha Flávia os últimos anos de sua vida. Ali em paz e com muita alegria aprendeu os rudimentos do Cristianismo, com a sua serva fiel, que muito lhe fazia recordar a esposa injustiçada por ele mesmo e martirizada por Amor a Jesus. Ana de Samaria, Maria João de Deus, é então a primeira evangelizadora de Emmanuel, nosso grande Emmanuel, evangelizador dos espíritas do Brasil. Esta é a grandeza desta alma de escol.

MARIA JOÃO DE DEUS

Clóvis Tavares

Maria João de Deus, Estrela Amiga,
Do firmamento de nossa afeição,
Luz Carinhosa, meiga companheira,
Protetora das almas em afeição.

Bendita sejas pelo bem que ofertas
Do meigo Mestre a cada coração
Bendita sejas, ó querida amiga,
Que nos trazes do Além, consolação.

Maria João de Deus, Estrela Amiga,
Do firmamento de nossa afeição,
Bendita sejas pela luz que espalhas
Em penhor de ventura e redenção.

Bendita sejas por Teu filho amado,
Que se uniu a Jesus em santa unção.
Bendita sejas pela luz que espalhas
Em penhor de ventura e gratidão