quinta-feira, outubro 06, 2005

PELA NÃO-COOPERAÇÃO COM O MAL

Pela Não Cooperação com o Mal

Mahatma Mohandas Gandhi



Na minha humilde opinião, a não-cooperação com o mal é um dever tão importante quanto a cooperação com o bem.A não-violência não existe se apenas amamos aqueles que nos amam. Só há não-violência quando amamos aqueles que nos odeiam. Sei como é difícil assumir essa grande lei do amor. Mas todas as coisas grandes e boas não são difíceis de realizar?

O amor a quem nos odeia é o mais difícil de tudo. Mas, com a graça de Deus, até mesmo essa coisa tão difícil se torna fácil de realizar, se assim queremos.Ahimsa (não-violência, não cooperação com o mal) é o atributo da alma e por isso deve ser praticado por todos, em todos os momentos da vida. Se não pode ser praticado em todas as áreas da vida, então não tem qualquer valor prático.Mas creio que a não-violência é infinitamente superior à violência, o perdão é mais nobre que a punição.

O perdão enobrece um soldado. Mas a abstenção só é perdão quando há o poder para punir; não tem sentido quando pretende proceder de uma criatura desamparada. Um camundongo dificilmente perdoa um gato que o dilacera. Compreendo os sentimentos daqueles que clamam pela punição condigna do General Dyer e outros iguais. Haveriam de esquartejá-lo, se pudessem. Mas não creio que a Índia seja desamparada. Não me considero uma criatura desamparada. Apenas quero usar a força da Índia e a minha própria para um propósito melhor.

A força da não-violência é infinitamente mais maravilhosa e sutil que as forças materiais da natureza, como a eletricidade.A não-violência não consiste em renunciar a toda luta real contra o mal. A não-violência, tal como eu a concebo, é, ao contrário, uma luta contra o mal mais ativa e mais real que a da Lei de Talião, cuja natureza própria é desenvolver, com efeito, a perversidade.

Considero que lutar contra o que é imoral pressupõe uma oposição mental e, conseqüentemente, moral. Busco neutralizar completamente a espada do tirano, não a trocando por um aço melhor, mas iludindo sua expectativa de encontrar em mim uma resistência física. Ele encontrará em mim uma resistência de alma que escapará à sua força. Tal resistência o deslumbrará e o obrigará a inclinar-se. E o fato de inclinar-se não humilhará o agressor, mas o enaltecerá. Podemos dizer que isto seria um estado ideal.

E o é!O teste maior da não-violência está no fato de não ficar qualquer rancor depois de uma conflito não-violento, com os inimigos se convertendo em amigos. Essa foi minha experiência na África do Sul com o General Smuts. Ele começou como o meu oponente e crítico mais encarniçado. Hoje, é meu amigo mais caloroso...

A não-violência nunca deve ser usada como um escudo para a covardia. É uma arma para os bravos.Temos de fazer com que a verdade e a não-violência não sejam metas apenas para a prática individual, mas para a prática de grupos, comunidades e nações. Esse pelo menos é o meu sonho. Viverei e morrerei tentando realizá-lo.

Minha fé me ajuda a descobrir novas verdades a cada dia que passa.O mundo não é totalmente governado pela lógica: a própria vida envolve certa espécie de violência, e a nós nos compete escolher o caminho da violência menor.

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