terça-feira, novembro 11, 2008

Wallace Leal Rodrigues entrevista Clóvis Tavares na RIE






Entrevistando CLÓVIS TAVARES.
Autor de magníficas obras espíritas fala à
Revista Internaciona de Espiritismo. RIE-1968

1- Clóvis, você assistiu a passagens importantes do Espiritismo em nosso país, além do depoimento que prestou sobre o médium mineiro, Chico Xavier...Entretanto a nossa primeira pergunta é a seguinte: Onde, quando e como se tornou espírita?

- Já que você se refere ao meu singelo depoimento sobre o nosso querido Chico, permita-me lembrar-lhe, caro Wallace, que acredito haver no “Trinta anos com chico Xavier” revelado, de escantilhão, o onde o quando e o como de minha adesão à nossa Doutrina Libertadora. Foi aqui em Campos, em 1935 e assim: Meu coração estava esmagado pelo mistério da morte – consinta-me usar as expressões tomadas ao meu livro sobre o venerável Xavier... Acabara de perder, assim o julgava na cegueira do meu materialismo, aquela que me fora noiva carinhosa e continua sendo o anjo tutelar de minha vida, Nina Arueira. Como uma folha na tempestade, deixara de lado livros e apostilas e voltava aflito, às inquirições de minha fé perdida, que ficara longe, esquecida entre as lembrqanças mais amadas de minha aldeia natal....Cria e não cria, mas queira crer...(...). Foi esntão que a mão de Deus, desceu cheia de piedade sobre minha dor. Companheiro amigo, talves do Crupo João Batista, me colocou na mão modesto folheto de difusão do Espiritismo. Quem fora ele? Virgílio Paula? Amaro Lessa? Bonifácio de Carvalho?Serafim de Almeida?Domingos Guimarães? Inicêncio Noronha?: ...Minha maméira, também mortificada, não mais o identifica hoje. Mas que Deus o abençôe, perdoando-me a retentiva ingrata.
Não me esqueço, porém, do folheto abençoado, que numa página transcrevia uns poucos verso do Parnaso de Além Túmulo....
Aqui encerro a transcrição, Wallace, para dizer-lhe que a esclarecedora publicação transcrevia algumas quadras de Guerra Junqueiro, duas estrofes de Augusto dos Anjos e algumas outras de Castro Alves...Senti-os redivivos, vencedores do túmulo e da morte...AS fortalezas do meu ceticismo ruiam no mais íntimo de minha consciência.
Mais tarde, inúmeras mensagens de amigos e benfeitores espirituais, por intermédio de Francisco Cândido Xavier, me trouxeram novos elementos à convicção, hoje inabalável, da imortalidade da alma.


2. Quantos livros tem publicados? Com qual estreou? Qual lhe deu maior prazer?

- Bem pequena e muito pobre é a minha bagagem, caro Wallace. Apenas dez volumes, quase todos de literatura infantil. O primeiro foi Sementeira Cristã, com carinhoso prefácio de Leopoldo Machado, iniciando a coleção de três, com o mesmo título, destinados à infância e a juventude espírita.
Não é nova, você sabe, a imagem que compara o livro a um filho...Quem escreve, naturalmente ama seus livros, qual pai o u mãe, ama os rebentos de sua carne. São eles também filhos do coração, do espírito. Para ser sincero, amo-os a todos, embora lembre como se fosse hoje, o nascimento do primeiro filhinho, o Sementeira Cristã. Recordo-me das palavras de carinho com que o saudoso amido, Dr. Gillon Ribeiro, o inolvidável presidente da Casa de Ismael, o apresentou nas páginas do Reformador. Comovem-me ainda hoje as expressões de bondade e estímulo com que o mesmo generoso benfeitor apresentou o terceiro volume da série Sementeira Cristã num extrato de catálogo da FEB na edição princéps de Nossa Lar, o magnífico livro-revelação de André Luiz...
Não posso fugir a uma referência especial à publicação de outro livrinho que me encheu o coração de contentamento, tais as doces recordações de Jesus de que ele está repleto. Trata-se de Histórias que Jesus contou, edição da LAKE. Às recordações das parábolas de Cristo juntam-se dois motivos fortíssimos de júbilo espiritual: o prefácio é de Emmanuel, recebido por Chico Xavier e as ilustrações do querdo Jô, nosso admirável Joaquim alves, a quem todos amamos...
Mas não posso esquecer a indefinível alegria que se misturou às silenciosas e humildes orações de um dia inesquecível, 29 de setembro. Foi nessa data, que recorda a desencarnação da generosa mãezinha de nosso chico, alma querida, que aprendemos a amar desde a leitura do Cartas de uma Morta, foi nessa data, no ano próximo passado 1967, que me chegou às mãos, lindamente vestido pelos cuidados artísticos de Joaqum Alves e dos irmãos Saraiva, em caprichosa Edição Calvário, o meu caçula ( e que não ama com ternura especial um caçulê?)- o Trinta Anos com Chico Xavier...

2. Como e porquê se decidiu a escrever Trinta Anos com Chico Xavier?

-Sobretudo, pensando no futuro, meu caro Wallace. No mundo de contradiçõesm em que vivemos, creio que é simples dever, testemunhar a verdade que vemos, que sentimos e que nos felicita. A vida de Chico Xavier, a do homem e a do médium, sem dicotomia, é uma saga maravilhosa. Quem o conhece há trinta e dois anos, qual acontece comigo, sente irrefreável necessidade de dar aos seus contemnporâneos, e, por que não dizer?, também aos pósteros, um testemunho de consciência e de coração. Recordo-me de uma expressão de Fócion Serpa, autor de A Vida Gloriosa de Oswaldo Cruz, que Gastão Pereira da Silva recolheu em seu romance do grande sábio brasileiro: “Cada um de nós deve um livro a Oswaldo Cruz”...Penso em você, Wallace, penso em Jô, em Peralva, no Arnaldo Rocha...penso que cada um de nós deve um livroa Chico Xavier. Foi por assim pensar e por bem sentir que escrevi, com alma e coração, meu singelo documento de provas vivas da imortalidade, o Trinta Anos com Chico Xavier.

3. Armazenando tantas lembranças formosas, qual acha Você que foi o maior momento de sua vida como espírita?

- Difícil resposta, caro Wallace ... Realmente, como diz Você, minha lma tem armazenado formosas lembranças, além de dádivas preciosíssimas, na pauta da divina misericórdia. Cada uma dessas recordações inesquecíveis, cada gesto de compaixão do Alto tem profundo significado par aminha alma sem méritos...Foram assim, muitos momentos de ventura espiritual que tenho experimentado. O reencontro com antigas e abençoadas amizades do passado sempre constitui para mim um ponto alto de indefiníveis emoções...A paisagem de Pedro Leopoldo, com todo o conteúdo espiritual da missão de nosso Chico, traduz para o meu coração um momento de Vida Eterna...
- Leonardo da Vinci nos fala da alegria de compreender. Junto de tantas almas bondoas que tem felicitado minha vida, com a exemplaridade de sua existência, venho conhecendo, mais e mais, e a alegria de sentir a beleza inefável da Doutrina Espírita qual força transformadora de nossos espíritos, impulsinonado-nos para o conhecimento elevado e, acimda de tudo, para o Amor de Deus com o serviço ao próximo.
Sempre que consigo experimentar essa alegria do sentir maior que a de Da Vinci, considero-me nos melhores momentos de minha vida.

4. O que acha de mais significativo no Espiritismo no Brasil?

Aquela admirável mensagem do Espírito de Verdade, que Allan Kardec incluiu em O Evangelho Segundo o Espiritismo, recomenda-nos: “ Espíritas, amai-vos, este o primeiro mandamento, instruí-vos, este o segundo.”
O que mais me encanta, o que mais significativo me parecebrilhar no trabalho missionário da Terceira Revelação na Pátria do Evangelho é justamente esta ânsia, este desejo de cumprir os dois ensinamentos do Espírito de Verdade. Desde os centros mais cultos, das maiores e mais veneráveis instituições espíritas até os mais modestos templos e cenáculos do interior do Brasil, já se nota, Deus louvado, o santo desejo de fazer da Doutrina Espírita um movimento de educação espirtual que não dispensa oexercício do amor cristão e da caridade legítima. Essa aliança do livro espírita e da fratenidade evangélica em nossas instituições doutrinárias me parece o que há de mais belo e de mais significativo no Espiritismo em nossa pátria.

5. Excluindo Chico Xavier, qual o vulto espírita que mais o impressionou? Por que?


Caro Wallace, permita-me que pluralize a resposta. Além do nosso grande Chico Xavier, honro-me e alegro-me por Ter conhecido pessoalmente grandes ebelas almas que dignificaram com o seu apostolado de amor a seara do Espiritismo no Brasil. Reporto-me àquelas que já se promoveram ao Mundo Maior e às quais sou agradecido pelas lições espirtuais que me comuincam: Dr. Guillon Ribeiro, Manuel Quintão, Prof. Cícero Pereira, Leopoldo Machado, Inácio Bittencourt, Virgílio Paula, Bonifácio de Carvalho, Dr. Camilo Chaves, Dr. Carlos Lomba, Dr. Lins de Vasconcelos, Antônio Sampaio Júnior, D. Marília Barbosa, José Cândido Xavier, Vinícius, Francisco Spinelli, a poetisa Maria Dolores e muitos outros...Teria qe apresentar outra grande lista de companheiros e amigos encarnados, se quisesse ou pudesse expressar-lhes, desse modo, meu profundo reconhecimento e a mais viva admiração.

6. O que Você acha que está errado no Espiritismo no Brasil?


Evidentemente há falhas, maiores ou menores, no esforço de nossos seareiros de nossa dourina no Brasil. Sou entretanto, dos que admitem que, de modo geral, todos se empenham, dentro de suas possibilidades, em oferecer o melhor em termos de nossa realizações doutrinárias.

7. Como intelectual, quais são as obras espíritas que levaria com Você, se fosse para uma ilha deserta?

Além das coleções de Kardec e Francisco Cândido Xavier, se possível completas, não esqueceria Ensinos Espiritualistas, de Stainton Moses; O Problema do Ser, do Destino e da Dor, de Léon Denis; O Espírito Consolador, de P. Marchal e Elucidações Evangélicas, de Saião.

8. Quando foi que ouviu falar de Cairbar Schutel? Tem dele alguma lembrança mais especial?

Quem me deu as primeiras notícias sobre Cairbar Schutel, e com os louvores ao apóstolo de Matão, também informes de Batuíra e Eurípedes Barsanulfo, foi meu amigo e saudoso benfeitor Virgílio Paula, um cristão de corpo inteiro que viveu e exemplificou o Evangelho em Campos. Fiquei, assim, conhecendo, desde a minha iniciação nbo Espiritismo, algo sobre esses valorosos missionários da Terceira Revelação.
Ao iluminado coração de Cairbar Schutel, devo o ntendimento d emuitas lições evangélicas, carinhosamente estudadas nos seus primorosos livros Parábolas e Ensinos de Jesus, Vida e Atos dos Apóstolos e O Espírito do Cristianismo, além da querida Revista Internacional de Espiritismo.

9. Está elaborando alguma obra nova? Que planos faz para o futuro?

Sim, caro Wallace. Estou em vias de conclusão de um novo trabalho, talvez quase um documentário, a respeito do vasto e inegável acervo de fenômenos espíritas no seio da Igreja Católica e por esta, certamente testemunhados. Intitula-se Mediunidade dos Santos, onde ofereço aos nossos irmãos espiritistas e católicos, os fatos mediúnicos, irrefutáveis e autênticos, que se desenrolaram na existência dos grandes heróis da fé cristã, em todos os tempos e latitudes. Acredito que os grandes e verdadeiros santos, não foram senão médiuns fiéis e veneráveis, instrumentos do alto, engajados no grande esforço de extensão do Reino de Deus em nosso mundo rebelde e angustiado...
Quanto a planejamentos para o futuro, querido Wallace, digo-lhe que entrego a Deus, meus sonhos silenciosos. Se ele me conceder, vida e saúde, espero poder continuar cooperando, embora muito pobremente, no serviço do livro, para usar a feliz expressão de Emmanuel...






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