Antônio Roberto abrilhantou uma vez um jantar beneficente da Escola Jesus Cristo interpretando uma linda poesia sobre o sol e a lua, que ainda não encontrei.
Disse também o poema "Mas..." o qual reproduzo abaixo, rogando a Deus pela alma bela do poeta simples e despretensioso, modesto e carinhoso, amigo e sincero que despediu-se desse mundo após um mês de angustiosa internação em UTI.
Que Deus receba e abençoe Antônio Roberto Fernandes:
Mas...
E eu que achei que a lua não brilhasse
sobre os mortos no campo da guerrilha,
sobre a relva que encobre a armadilha
ou sobre o esconderijo da quadrilha,
mas brilha.
.
E achei que nenhum pássaro cantassese
um lavrador não mais colhe o que planta,
se uma família vai dormir sem janta
om um soluço preso na garganta,
mas canta.
.
Também pensei que a chuva não regasse
a folha cujo leite queima e cega,
a carnívora flor que o cego inseto pega
ou o espinho oculto na macega,
mas rega.
.
Pensei também que o orvalho não beijasse
a venenosa cobra que rasteja
no silêncio da noite sertaneja
sobre a ruína de esquecida igreja,
mas beija.
.
Imaginei que a água não lavasse
o chicote que em sangue se deprava
quando, de forma monstruosa e brava,
abre trilhas de dor na pele escrava,
mas lava.
.
Apostei que nenhuma borboleta
-por ser um vivo exemplo de esperança-
dançaria contente, leve e mansa
sobre o túmulo em flor de uma criança,
mas dança.
.
Por isso achei que eu não mais fizesse
poema algum após tanto embaraço,
tanta decepção, tanto cansaço
e tanta espera, em vão, por teu abraço,
mas faço.
.
.
.
A Paz, Antônio Roberto...
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