Nelzimar Lacerda
Quando estava para ingressar na Academia Fidelense de Letras, levei alguns dias para decidir sobre qual seria o meu patrono, embora havia pensado em Fernado Pessoa, Castro Alves, alguns dos famosos imortais do mundo da literatura, mas as suas cadeiras já se encontravam escolhidas pelos demais membros e colegas que já haviam tomado posse. Daí perguntei a um colega sobre quais cadeiras estavam para serem escolhidas. E ele foi citando alguns nomes como Sebastião Fernandes, poeta e escritor fidelense, citado até em revistas literárias internacionais no século passado, bem como, prêmio Machado de Assis com o livro “Cuité”. Todavia, ao ouvir o nome de Nina Arueira, sondei por detalhes sobre sua história, o que comoveu-me muito, levando-me a optar pela cadeira referente a ela.
Não obstante, a história de luta e exemplo, da escritora, jornalista e líder sindical revolucionária na década de 30, acredito, hoje, o país carece de líderes como Nina, cuja ausência faz com que se perceba a triste realidade e continuidade de um mesmo processo onde as injustiças sociais permanecem. A jovem menina Nina, aos 16 anos de idade, já se encontrava a quilômetros de avanço sobre a formação de um verdadeiro contexto de cidadania e espírito de luta, o que não se vê na juventude de hoje. Nina levantou uma bandeira em defesa dos direitos sociais em favor dos trabalhadores oprimidos e excluídos por conta de um sistema político perverso, o que não difere do atual. Nina não precisou pintar a cara, não fez parte de nenhuma liga estudantil ou sindicato constituído por líderes pré-fabricados, para serem coniventes com os interesses fisiológicos da corte. Nina caminhou até o fim da sua breve trajetória de vida sem fugir ou trair seus princípios e ideais de luta por uma sociedade igualitária.
Para quem não sabe Maria da Conceição Arueira, era filha de uma família de classe média de Campos, de origem quatrocentista, até onde conheciam no distrito de São Martinho. Uma menina iluminada, vibrante, inteligente e com espírito altamente evoluído. Apesar de ter falecido com apenas 19 anos de idade, ao contrair tifo, doença que dizimou muita gente naquela época, Nina foi uma espécie de anjo que desceu dos céus, para romper com barreiras alienantes e abrir caminhos no sentido de abraçar uma causa e conscientizar o povo sobre a importância de unir forças na luta contra a burguesia dominante que explorava e massacrava o povo. No entanto, comparando o contexto sobre o qual Nina se pôs a lutar pelos direitos sociais, parece-nos que não há muita diferença do contexto de hoje, apesar de termos uma Constituição Federal, onde estão escritos os direitos sociais e fundamentais, mas que não são cumpridos. Pior, não temos líderes como Nina, e a história se repete... A maioria da população brasileira continua vivendo à margem da miséria e pobreza. Não existe saúde pública e nem educação de qualidade e, continuamos vivendo sob as rédeas dos capitalistas do crime e da corrupção, formada pelas elites dominantes que continuam no poder, sendo uma espécie de tifo que mata e corrói com quaisquer princípios de moralidade, ética e justiça nesse país.
Logo, ao falar de Nina nesse mesmo veículo de comunicação histórico e do qual fez parte como colaboradora, é enaltecer a alma preenchendo-a de emoção e razão.
MONITOR CAMPISTA 12 de junho de 2007
Um comentário:
Muito bom o texto sobre Nina!
Seus exemplos nos fazem querer despertar um pouco mais do sentimento revolucionário que existe dentro de nós...
Beijão!
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