sexta-feira, setembro 23, 2005

Reencarnação e Ressurreição

REENCARNAÇÃO E RESSURREIÇÃO

Nasci em lar espírita, e desde a mais remota idade internalizei a idéia de reencarnação a qual faz parte dos conceitos basilares de minha vida. Meu Pai, Clóvis Tavares, segundo sua didática especial, soube oferecer-me com a naturalidade que o conceito merece, toda a sua verdade.

Eu freqüentava com regularidade os cursos de Evangelho na Escola Jesus Cristo, Instituição Espírita de Cultura e Caridade, fundada por meu pai em nossa Campos, no ano de 1935. Quando eu iniciei meu curso Secundário B, em 1971, a cargo do confrade Rubens Fernandes, recordo-me de que ele pediu à turma que pesquisasse em O Evangelho Segundo o Espiritismo , de Allan Kardec, o tema Reencarnação e Ressurreição. Foi a primeira vez que pude considerar os dois conceitos comparativamente. Fiz a modesta monografia, da forma que pode um garoto de 12 anos, mas que já desde os 9 estudava O Evangelho segundo o Espiritismo em classes de Evangelho. Confesso que este estudo marcou-me profundamente, sem que eu pudesse dimensionar o que se passava em meu espírito. O "Parabéns" que o Rubens Fernandes escreveu no alto da primeira página do trabalho manuscrito foi acompanhado da seguinte observação: "Você poderia ter escrito mais um pouco". Àquela época eu não poderia compreender o significado que a observação teria em minha vida.

Os anos de juventude passaram, cursei a Faculdade de Medicina e casei-me em 1983. Especializei-me em Homeopatia nas dependências do velho Instituto Hahnemanniano do Brasil, na rua Frei Caneca e passei a considerar não apenas a importância da saúde do corpo para a da a saúde da alma, mas também perceber que a saúde anímica é determinante para a higidez biológica. Neste mesmo ano de 1983, desencarnou o meu tio David Mussa, que era Juiz de Direito no Rio de Janeiro. Na Igreja onde seu corpo foi velado, houve uma celebração religiosa e eu ali permanecia sentado, orando por sua alma que muito conhecimento a mim havia transmitido, quando meu Pai, Clóvis Tavares, adentra respeitosamente o portal de Igreja e senta-se . O sermão do sacerdote subitamente muda seu curso, até então insípido, prosaico e monótono, e passa a fustigar a Reencarnação que ele considerou "um absurdo filosófico". Oferece em seguida a opção da Ressurreição, que segundo seu discurso é a antípoda da Reencarnação e verdadeiramente evangélica . Num impulso realimentado, seguiu o sacerdote de modo irado, quando direcionei o olhar para meu Pai, que ainda cabisbaixo, parecia orar, como a perdoar toda aquela agressividade em tão imprópria hora. Não pude conter minhas lágrimas num sentimento misto de saudade de meu tio (que era reencarnacionista) e consternação por ver meu Pai serenamente resignado.

Neste dia reacendeu-me a questão Reencarnação e Ressurreição. nesta segunda oportunidade que a vida me oferecia de considerá-los juntos. Eu jamais imaginara uma guerra conceitual de tão graves proporções e as palavras do sacerdote motivaram-me a um retorno ao tema que anos antes me impressionara a juventude.
Todavia, eu estava vivendo o início da carreira médica e de minha vida matrimonial e isso foi minha justificativa interna para deixar as idéias hibernando. Mais uma vez, o tema viria a adormecer em algum espaço virtual de meu espírito e a estranha impressão que aqueles dois conceitos aparentemente polarizados me causaram, esmaeceu-se. Justamente quando pude me dar conta de uma oposição forjada entre eles , os quais até então, no meu interior, conviviam em harmonia.

Após um segundo e prolongado intervalo, recebi de presente, em 1997, um livro chamado Reencarnação ou Ressurreição_ Uma decisão de Fé, de Renold Blank. E' um interessante e minucioso trabalho onde o autor antepõe as duas categorias, argumentando que a opção pela Ressurreição é uma escolha de fé. O nível do trabalho é muito bom. O autor demonstra conhecer bem as obras básicas da codificação kardequiana, além de avaliar alguns conceitos emitidos popularmente e atribuídos à doutrina espírita.
Este foi o terceiro choque anímico que recebi. O terceiro ensejo que me era oferecido, como a impor-me um testemunho sobre esta, que considero ser uma pseudo-oposição.
Iniciei este despretensioso ensaio em fins de 1998, enfrentando uma grande resistência, para mim inexplicável. Era difícil concatenar os pensamentos, encadear as idéias e trancrevê-las. Sabia o argumento do estudo. Havia preparado todo o esboço, mas não corporificava minhas idéias. Alguns meses após, minha mãe, Hilda Mussa Tavares, inicia uma de suas habituais visitas ao querido Chico Xavier, em Uberaba, mantendo uma tradição iniciada por meu pai que o visitou anualmente por cerca de cinco lustros. Solicitei que ela, numa oportunidade em que privasse de maior proximidade com o Chico, o indagasse da conveniência desse estudo. Efetivamente, ela pôde almoçar com o amigo e estar ao seu lado, onde, como sempre, conversaram sobre a nossa Escola Jesus Cristo, de Campos e sobre meu Pai. Quando ela lhe falou de minhas dúvidas , Chico encorajou-me a continuar a tarefa, e ditou-lhe carinhosa missiva, que por conter valiosas observações, apresento-a a guisa de prefácio.

Foi uma excelente confirmação, pois minha mãe não conhecia a estrutura do trabalho que já estava pronta quando ela me trouxe as impressões do Chico , propondo o que eu penso ser a relação espiritual entre Ressurreição e Reencarnação.

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