QUERES FICAR CURADO?
Estava ali um homem enfermo havia trinta e oito anos
Jo.5:5
O capítulo 5 do Evangelho de João inicia-se com o paralítico de Betesda.
Betesda era uma fonte de águas curativas. Ela se revolvia espontaneamente e no instante em que ocorria a marola, acreditava-se, o primeiro que nela penetrasse alcançaria a graça da cura, seja qual fosse a marca que trouxesse.
O paralítico vivia à margem do tanque, mas não cogitava de sua cura. Estava ali provavelmente, como ficam os que se acham inválidos, para esmolar. Os logradouros da fé que recebem afluência de peregrinos, ávidos da cura, são também muito visitados por pessoas necessitadas do pão material e que contam com a piedade daqueles que, não tendo a mesma carência, almejam o alívio de suas dores físicas e morais. A quem melhor fazer um pedido, do que àquele que também encontra-se no momento frágil, no momento de pedir à Deus? A porta da Igreja é lugar preferido dos pedintes, pois se o que diz amar a Deus, não sensibiliza o seu coração diante do sofrimento humano, onde encontrar então a misericórdia?
O paralítico, assim, recorria aos peregrinos que buscavam a cura nas águas do tanque, um pouco de solidariedade diante de sua condição de incapacidade física. Estava adaptado à indigência e à incapacidade.
É por isso que Jesus lhe pergunta se queria ficar curado! De outro modo, uma pergunta dessa pareceria uma ironia. Mas Jesus não usava deste expediente. Ele ia ao centro de nossa doença anímica. E a doença da alma do paralítico de Betesda era o fato de que ele tinha capitulado diante da vida e nem esperança nutria mais.
Vivia como uma gralha comendo peixes mortos a beira do cais.
Jesus pergunta se ele desejava voltar a sua condição de águia, para alçar vôos mais altos, para singrar os céus, para cruzar o espaço...
Jesus lhe questiona quanto a sua condição sub-humana e como o filho pródigo comendo alfarrobas, questiona se ele não almejava retornar a sua dignidade?
Ele ainda tenta acomodar-se, culpando os outros que não o jogavam na piscina, mas Jesus lhe dirige a pergunta que não admite tergiversação: "Queres ficar curado?"
Se estamos na condição daquele que vai a sua igreja, ao seu centro, só para abrigar-se na fé do outro; se estamos acomodados a nossa paralisia espiritual e consideramos que alguém precisa nos jogar nas águas; aceitemos a pergunta de Jesus e não recuemos diante da resposta. Queremos nos curar da paralisia da alma?
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