MEDEIROS DE VOLTA
Conheci na minha infância, Medeiros, o amigo de meu Pai, Clóvis Tavares, a quem ele dedicava um amor fraternal. Era na verdade, o Juiz de Direito José de Medeiros Corrêa Júnior.
Ele nos visitava em nossa casa de Campos e ficava com Papai, horas em interminável conversação edificante. Eu costumava assistir suas palestras na Escola Jesus Cristo, onde era o convidado habitual dos aniversários de nossa casa.
Meu Pai nos contava que ele e Medeiros na juventude, foram morar na Escola Jesus Cristo para cuidar de meninos órfãos. Dois jovens entregaram-se ao trabalho cristão com as máximas forças de suas almas e ali viveram um idealismo contagiante. Medeiros e Clóvis, uma amizade fortalecida pelo Amor a Jesus, nas pessoas dos menores da orfandade.
Medeiros nasceu em Tombos de Carangola-MG. Quinto filho do casal José de Medeiros Correa e de Rosalina de Medeiros Correa, sendo o único varão. Reintegrou-se neste mundo físico a 5 de março de 1917. A família mudou-se para Cachoeiro de Itapemirim-ES, onde viviam outros parentes. Medeiros, após a desencarnação de seu Pai, passou a residir em companhia de sua Mãe. Pouco tempo depois, esta também desencarna e é justamente nesse momento, que Medeiros vem morar com Clóvis na Escola Jesus Cristo. Mais precisamente, eles residiam com os guris no Lar dos Meninos, orfanato para crianças do sexo masculino, que pertencia à Escola Jesus Cristo. Eram verdadeiros pais daquelas crianças, pois exerciam uma autoridade branda e consistente, com o fundamento no Evangelho de Jesus.
Para o seu sustendo, Medeiros, apesar de bacharel em Direito, lecionava Língua Portuguesa e Latim, no Liceu de Humanidades de Campos. Em suas férias escolares, visitava a família em Cachoeiro de Itapemirim, onde freqüentava e colaborava no Centro Espírita Jerônimo Ribeiro. Foi nesta instituição que conheceu a nossa estimada Déa, com quem casou-se. Após seu casamento, mudou-se para Cachoeiro, no ano de 1955. Tiveram quatro filhos: Maria Assunção, Estêvão, Silvia e Marta.
Foi aprovado com louvor para o Concurso da Magistratura e residiu em diversas cidades do Estado. Entretanto, não esqueceu-se jamais da Escola Jesus Cristo. Convidado sempre para ser o palestrante do dia 27 de outubro, sempre recordou para o público, que ali residiu com Clóvis e os meninos e viveu um belo ideal de vocação espiritual e onde ganhou incontáveis amigos pelo coração. No final de sua carreira, foi transferido para Vitória e optou por morar em Vila Velha. Nesta cidade, recebeu a visita de um grupo de dirigentes da União Espírita Cristã, que afirmaram haver recebido orientação espiritual de convidá-lo para participar dos trabalhos espirituais da casa.
Em 1984, mais precisamente, no dia 13 de abril, recebe a dolorosa notícia da desencarnação de seu amigo Clóvis Tavares. O corpo de meu Pai estava sendo velado na Escola Jesus Cristo. Medeiros adentrou o Templo, olhou os circunstantes e caminhou pesadamente na direção da urna. Fitou durante alguns instantes o corpo hirto de Clóvis e mergulhou em pensamentos insondáveis e orações de saudade. Alguns instantes depois, o nosso querido Medeiros inicia uma despedida pública de Clóvis Tavares. Não saberia eu reproduzir aqui, as suas tocantes palavras, imantadas de emoção enorme. Todavia, não poderia esquecer-me jamais da forma como terminou ele o seu pronunciamento naquela manhã de 14 de abril de 1984: - Até à vista, meu caro Clóvis! Até à vista! Disse estas palavras em tom emocionado, com voz embargada pela emoção, fazendo uma citação do final do discurso com que Camilo Flamarion despede-se de seu mestre e amigo Allan Kardec. A citação foi profética, pois foi realmente em um breve espaço de tempo, isto é, cerca de um ano, que despede-se também Medeiros deste mundo, cumprindo solenemente o seu premonitório “até a vista!”.
Um acidente automobilístico, no ano de 1985, reconduz, aos 68 anos, o querido Medeiros a Pátria espiritual. Seus exemplos foram de humildade, honradez, e bondade para todos os que tiveram o privilégio de com ele conviver.
Certa vez, nosso irmão Rubens Fernandes presenciou, em visita ao amigo na cidade de Vitória, um fato impressionante. Medeiros havia convidado o Rubens para conhecer o Fórum da capital capixaba. Ali chegando, o Juiz entrou pela entrada comum, evitando a passagem privativa e privilegiada que seu cargo lhe conferia. Atendeu algumas pessoas pessoalmente, até mesmo no corredor. Em determinado momento, ao avistar uma detenta, que era gestante, manda imediatamente que lhe transferissem da cadeia para um Hospital, onde faria serviços na cozinha até a época do nascimento de seu filho. E em sua sentença afirmou que “cadeia não era lugar para mulheres grávidas, hospitais sim!” Rubens soube mais tarde, que esta mulher, após o parto, terminou sua pena e foi trabalhar no mesmo Hospital, com toda a dignidade. Dignidade esta, resgatada por um Juiz que tinha Jesus em seu coração.
Medeiros escreveu dois livros: este e "Em Verdade Vos Digo", que se Deus permitir, também será publicado. Que o nosso querido amigo Medeiros, em companhia dos que, como ele, multiplicaram os talentos recebidos do Divino Dispensador de bênçãos, receba nosso preito de eterna gratidão.
Flávio Mussa Tavares
27 de outubro de 2008
73 anos da Escola Jesus Cristo
Conheci na minha infância, Medeiros, o amigo de meu Pai, Clóvis Tavares, a quem ele dedicava um amor fraternal. Era na verdade, o Juiz de Direito José de Medeiros Corrêa Júnior.
Ele nos visitava em nossa casa de Campos e ficava com Papai, horas em interminável conversação edificante. Eu costumava assistir suas palestras na Escola Jesus Cristo, onde era o convidado habitual dos aniversários de nossa casa.
Meu Pai nos contava que ele e Medeiros na juventude, foram morar na Escola Jesus Cristo para cuidar de meninos órfãos. Dois jovens entregaram-se ao trabalho cristão com as máximas forças de suas almas e ali viveram um idealismo contagiante. Medeiros e Clóvis, uma amizade fortalecida pelo Amor a Jesus, nas pessoas dos menores da orfandade.
Medeiros nasceu em Tombos de Carangola-MG. Quinto filho do casal José de Medeiros Correa e de Rosalina de Medeiros Correa, sendo o único varão. Reintegrou-se neste mundo físico a 5 de março de 1917. A família mudou-se para Cachoeiro de Itapemirim-ES, onde viviam outros parentes. Medeiros, após a desencarnação de seu Pai, passou a residir em companhia de sua Mãe. Pouco tempo depois, esta também desencarna e é justamente nesse momento, que Medeiros vem morar com Clóvis na Escola Jesus Cristo. Mais precisamente, eles residiam com os guris no Lar dos Meninos, orfanato para crianças do sexo masculino, que pertencia à Escola Jesus Cristo. Eram verdadeiros pais daquelas crianças, pois exerciam uma autoridade branda e consistente, com o fundamento no Evangelho de Jesus.
Para o seu sustendo, Medeiros, apesar de bacharel em Direito, lecionava Língua Portuguesa e Latim, no Liceu de Humanidades de Campos. Em suas férias escolares, visitava a família em Cachoeiro de Itapemirim, onde freqüentava e colaborava no Centro Espírita Jerônimo Ribeiro. Foi nesta instituição que conheceu a nossa estimada Déa, com quem casou-se. Após seu casamento, mudou-se para Cachoeiro, no ano de 1955. Tiveram quatro filhos: Maria Assunção, Estêvão, Silvia e Marta.
Foi aprovado com louvor para o Concurso da Magistratura e residiu em diversas cidades do Estado. Entretanto, não esqueceu-se jamais da Escola Jesus Cristo. Convidado sempre para ser o palestrante do dia 27 de outubro, sempre recordou para o público, que ali residiu com Clóvis e os meninos e viveu um belo ideal de vocação espiritual e onde ganhou incontáveis amigos pelo coração. No final de sua carreira, foi transferido para Vitória e optou por morar em Vila Velha. Nesta cidade, recebeu a visita de um grupo de dirigentes da União Espírita Cristã, que afirmaram haver recebido orientação espiritual de convidá-lo para participar dos trabalhos espirituais da casa.
Em 1984, mais precisamente, no dia 13 de abril, recebe a dolorosa notícia da desencarnação de seu amigo Clóvis Tavares. O corpo de meu Pai estava sendo velado na Escola Jesus Cristo. Medeiros adentrou o Templo, olhou os circunstantes e caminhou pesadamente na direção da urna. Fitou durante alguns instantes o corpo hirto de Clóvis e mergulhou em pensamentos insondáveis e orações de saudade. Alguns instantes depois, o nosso querido Medeiros inicia uma despedida pública de Clóvis Tavares. Não saberia eu reproduzir aqui, as suas tocantes palavras, imantadas de emoção enorme. Todavia, não poderia esquecer-me jamais da forma como terminou ele o seu pronunciamento naquela manhã de 14 de abril de 1984: - Até à vista, meu caro Clóvis! Até à vista! Disse estas palavras em tom emocionado, com voz embargada pela emoção, fazendo uma citação do final do discurso com que Camilo Flamarion despede-se de seu mestre e amigo Allan Kardec. A citação foi profética, pois foi realmente em um breve espaço de tempo, isto é, cerca de um ano, que despede-se também Medeiros deste mundo, cumprindo solenemente o seu premonitório “até a vista!”.
Um acidente automobilístico, no ano de 1985, reconduz, aos 68 anos, o querido Medeiros a Pátria espiritual. Seus exemplos foram de humildade, honradez, e bondade para todos os que tiveram o privilégio de com ele conviver.
Certa vez, nosso irmão Rubens Fernandes presenciou, em visita ao amigo na cidade de Vitória, um fato impressionante. Medeiros havia convidado o Rubens para conhecer o Fórum da capital capixaba. Ali chegando, o Juiz entrou pela entrada comum, evitando a passagem privativa e privilegiada que seu cargo lhe conferia. Atendeu algumas pessoas pessoalmente, até mesmo no corredor. Em determinado momento, ao avistar uma detenta, que era gestante, manda imediatamente que lhe transferissem da cadeia para um Hospital, onde faria serviços na cozinha até a época do nascimento de seu filho. E em sua sentença afirmou que “cadeia não era lugar para mulheres grávidas, hospitais sim!” Rubens soube mais tarde, que esta mulher, após o parto, terminou sua pena e foi trabalhar no mesmo Hospital, com toda a dignidade. Dignidade esta, resgatada por um Juiz que tinha Jesus em seu coração.
Medeiros escreveu dois livros: este e "Em Verdade Vos Digo", que se Deus permitir, também será publicado. Que o nosso querido amigo Medeiros, em companhia dos que, como ele, multiplicaram os talentos recebidos do Divino Dispensador de bênçãos, receba nosso preito de eterna gratidão.
Flávio Mussa Tavares
27 de outubro de 2008
73 anos da Escola Jesus Cristo
Um comentário:
Não conheci Medeiros, mas por sua biografia aqui narrada e pelo título do livro, imagino que seja realmente muito bom!!
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