sábado, agosto 18, 2007

UM POUCO SOBRE A FAMÍLIA


Tive a oportunidade de falar ao público da Escola Jesus Cristo, na noite de sexta feira, 17 de agosto último, quando ainda sentindo os ecos do Dia dos Pais, comemorado em nossa terra no segundo domingo de agosto, recordei algumas quadras de espíritos diversos inclusas em "Praça da Amizade", psicografado pelo nosso Chico Xavier e publicado pela Cultura Espírita União, de nossos amigos Galves e Nena. O livro é uma interlocução de trovas de poetas da espiritualidade e pensamentos de espíritos que viveram na seara espírita em terra brasileira, já desencarnados , que reuniram-se neste colóquio espiritual através de nosso Chico querido a nos brindar com uma torva e um pensamento sempre articulados no sentido e integrados na sabedoria.

O capítulo 8, é justamente sobre a Família e começamos com Pedro Nunes que nos transmite a quadra:


O lar é um pouso que exige

Lições, encontros e esperas,

Onde a vida nos corrige

Os desmandos de outras eras.



E completa-se com o pensamento de Eugênio Silveira:

O lar é uma escola, em que somos, na Terra, aprendizes e professores uns dos outros.

A simbologia da reencarnação como matrícula em uma escola é belíssima. Essa escola é primeiramente o lar. Meu Pai, Clóvis Tavares, sempre nos ensinou que a primeira mensagem de Deus ao homem foram "Os Dez Mandamentos" que em seu quinto artigo reserva espacial atenção a paternidade: "Honrar Pai e Mãe", diz a mensagem divina. Este artigo encontra-se no centro do decálogo, entre os quatro primeiros que nos falam de nossos deveres para com o nosso Criador e os quatro últimos, que nos recordam de nossos deveres éticos para com a nossa sociedade. No centro, a família. E honrar Pai e Mãe é muito mais que respeitá-los, é viver para manter a sua memória íntegra. Viver para dignificá-los diante de Deus e dos homens.

Assim, a escola do lar é um reencontro, onde seremos constrangidos, levemente, a reparar antigos desmandos. Ali, no ninho doméstico, receberemos aqueles a quem humilhamos, aqueles que nos desprezaram, grandes e pequenos desafetos que reclamam reconciliação, reparação, cuidado e entendimento. Quem poderá dizer-se um professor em tempo integral. Somos instrutores e aprendizes simultaneamente e a todo instante precisamos de novos estímulos a fim de renovarmos nossas técnicas de ensino e nossa capacidade de aprendizagem.

Milton da Cruz nos presenteia:


Tribulação do passado

Da qual não me desvencilho:

Inimigo reencarnado

No menosprezo de um filho.


Que se completa com o pensamento de João Augusto Chaves:


Agradece à família em que nasceste; ela é valiosa seção do grande educandário da Terra, em que a Providência Divina te matriculou para estágio transitório no serviço de teu próprio aperfeiçoamento.


Vede que complementação perfeita: a trova nos fala de um filho que atribula o seu pai com o menosprezo, rememorando a inimizade de outrora. E a prosa nos remete à necessidade de aproveitar esse reencontro de dores antigas para reconstruí-lo. Se o filho tem um temperamento difícil, se é obstinado, temperamental, indócil, certamente estará fazendo suscitar no ânimo do pai, a paciência que não teve em outras eras. O espírito, agora num corpo infantil, reclama a atenção, mas ao mesmo tempo a despreza, como que desconfiando do sentimento. É justo que os pais procurem ajuda especializada para entender o temperamento complexo de seus filhos, mas que não descuidem de ensiná-los a orar diariamente, a fazer o culto do Evangelho no Lar e a conduzi-los a uma evangelização espírita para despertá-los para a reconciliação na escola do lar.

Ainda comentando sobre os encontros e desencontros familiares, recordei a certo momento que meu Pai, ensinava-nos nas aulas da Mocidade Espírita Maria Zenith Pessanha, que "todo casamento é feliz", pois é dirigido pela espiritualidade, para promover retificações em nossa vida emocional.


E terminando, lembrei dos Pais que são afastados do convívio com seus filhos como o Quinto Varro de "Ave, Cristo!" de Emmanuel, psicografado pelo nosso Chico. Ele obteve a conversão de seu filho Taciano, na hora da desencarnação, mesmo tendo vivido pouco tempo com ele em família. E numa mensagem do espírito de Jair Presente, um dos "jovens no além" que converteu-se em benfeitor de nossos espíritos através da psicografia de Chico Xavier, contida no livro "Revelação", publicada pela GEEM há uma belíssima estória contada em verso a respeito de um espírito sofredor que é resgatado da sede de vingança:




REGENERAÇÃO


Pelo médium possuído,

Disse o rude obsessor,

Por favor, ninguém me fale

Em perdão, bondade, amor.


Se roubaram minhas terras

Quebrando normas da lei,

Conheço meus inimigos,

Bem os conheço, bem sei...


Toda terra desta vila

É minha propriedade,

Pela força do progresso

Ei-la virando cidade...


Vários ladrões se reuniram,

Tudo de caso pensado,

E usando papéis de fraude

Puseram-me derrotado.


Firmina, minha mulher,

Morreu de tanto desgosto.

Ela deve estar no Céu

E eu estou firme no meu posto.


Deixei nossos dois pequeninos,

Com nossa tia Constança,

E aqui continuo agindo

Em meus planos de vingança.


Falou o doutrinador:

Meu irmão, perdoa e esquece;

No caminho do perdão,

O ódio desaparece.


O obsessor prosseguiu

Dizendo frases insanas,

Dando incômodos ao grupo

Por quatro longas semanas.


Mas noutra rua existia

Um espírita nobre e genuíno,

Pedreiro de vida simples

Chamado irmão Bernardino.


Ele foi solicitado

A ajudar o vingador;

Sob tensão veio ao grupo,

E orou com grande fervor.


Diante do obsessor,

Exclamou: meu caro irmão,

Soube aqui que a sua paz

Depende do seu perdão.


Ante a pequena assembléia

Da sessão de amor e luz,

Pediu ao pobre rebelde,

Que recordasse Jesus!...


O obsessor em gestos rudes,

Parecia sem lugar,

E com o assombro de todos,

O pobre pôs-se a chorar.


Bernardino compungido

Dava-lhe paz e esperança,

Entretanto o vingador,

Chorava sem confiança.


Depois gritou: Deus me livre

Deste ódio que não sai.

Bernardino, meu amigo,

Vem a mim! Eu sou seu pai!...


Eis um caso em que a relação familiar funcionou entre as duas dimensões da vida. O filho encarnado, era um humilde pedreiro, o pai, expropriado em seus bens, desencarnou na miséria, deixando os filhos com parentes. Na erraticidade, ajuntou-se às sombras por causa do ódio e somente diante da oração de deu filho, que ele se vê constrangido ao arrependimento.


Deus é Pai! Jesus ensinou-nos a chamá-lo assim e é Nosso, é de todos! Nosso Pai, Pai de todos os seres da criação, somos teus filhos, ainda impenitentes, ainda viciosos, ainda desgarrados de Teu aprisco. Aceite-nos Pai, recebe-nos por misericórdia em Teu coração.

Um comentário:

Juliana Tavares disse...

Foi muito boa a pregação!
Beijos