Flávio Mussa Tavares
Para uns se chamava Berenice,
Verônica para outros.
De alegria cativante, esta mulher,
Secou a lágrima de um enfermo e disse:
-Coragem amigo, pois nosso Deus é esperança.
Agia assim desde criança.
Casou-se com jovem construtor.
Tiveram um filho, fruto de amor.
Entretanto, um tumor
Causou-lhe prolongada hemorragia.
Além de terebrante dor,
Era uma doença que lhe constrangia.
De acordo com a legislação
Tornara-se toda impura.
Nada mais ousasse tocar.
Estava sob tremenda maldição.
E esse seu mal não tinha cura.
De longe viu o filho a crescer
Sem poder amamentá-lo.
Ansiava ao colo tomá-lo,
Sonhava o esposo ter.
Todavia, a tradição
Expressa na Torah,
Enquistou-a em seu lar,
Oprimindo-lhe o coração.
Impedida de o filho criar
E de ser uma esposa de fato,
Assistiu seu esposo a deixar.
Não mais viu o recém nato.
Percorre uma via crucis
De esculápio a esculápio.
Muitas promessas à infeliz
De louco, charlatão e larápio.
Alijada do convívio social.
Nunca era vista nas ruas.
Absorvida em seu próprio mal,
Nem família e casa eram suas.
Decretada impura pela religião,
Dos velhos profetas de Israel.
O Levítico relegava-a a solidão,
Pois dizia que seu toque era fatal
Inoculando tudo alcançasse,
Com os miasmas de seu mal.
Ventos lhe trouxeram, entretanto,
Notícias de um taumaturgo
Que corria as estradas empoeiradas
Da Judéia, Galiléia e Samaria.
Curou Bartimeu, restaurou Maria.
Levando, assim, a paz a cada burgo.
Bem afamado este profeta se tornou.
Ensinava o homem a ser como criança.
Levantava os caídos falando-lhes do amor.
Esse santo, então, concentrou sua esperança.
Avistou-o, enfim, um dia.
Seria verdadeira a imagem que via?
Um homem irradiando tanta luz!
Seria a solução de seu destino
Aquele fogo no seu mediastino?
Disseram a ela que seu nome era Jesus.
Mas como apresentar-se a ele?
Como falar-lhe do seu mal?
Iria transgredir a lei e o tribunal.
Tocaria o manto dele,
E sararia afinal.
Aproximou-se pela retaguarda
Movida por coragem e tanto.
Por uma abertura nada larga
Tocou a orla de seu manto.
Foi então que sentiu atravessar seu dorso
Uma força que desconhecia.
Algo que um de nós, hoje, diria:
-Foi uma corrente elétrica,
Que lhe alcançou todo o corpo,
Deixando-lhe extática.
Após esse indescritível frenesi
Percebeu um misto de harmonia
Com o tremor que ainda sentia
Dentro de si.
Secara-lhe a fonte da hemorragia
E antes que pudesse afastar-se dali,
Jesus pára e desconfia
Que alguém o tocara ali.
Diz Pedro, o primeiro do time:
-Como saber? Se a multidão o comprime?
Mas sabe Jesus a que alude,
Pois viu e sentiu de si sair
Uma virtude!
Temendo e ainda tremendo, a ex-hemorroíssa,
Arriscou um julgamento com sua confissão.
Disse, prostrando-se no chão:
Fui eu Senhor, cometi uma injustiça?
Falou Jesus, todo bondade:
-Verônica, minha filha
Esteja curada de tua enfermidade
Sei que sabes quem eu sou
Mas creia que a verdadeira maravilha
Foi tua fé que te salvou!
4 comentários:
ficou linda a poesia!
A história de Verônica mostra como o pré-conceito é algo tão antigo. Através dos tempos ele continua... seu rosto é mesmo, só suas "vestimentas" é que são diferentes.
antes a hemorragia de verônica, hoje a cor, a sexualidade, a classe social, o sexo, e ainda a doença. (Verônica um tumor que lhe causava hemorragia, hoje a AIDS, o Câncer...)
Mas todos nós, independente do que somos ou temos, somos filhos de Jesus e é através dele que podemos ser pessoas melhores a cada dia.
beijos
Monique Rabello
Oi, pai!
Parabéns pela palestra e pela poesia que resume toda a triste e bela história de Verônica.
Abraços!!
Muito emocionante a poesia papai.
Não sabia que era poeta.
Parabéns pelo tema escolhido e pela belíssima maneira de utilizar as palavras.
Beijinhos Bebel =^.^=
Linda a poesia! Comovente a história... como fica mais bela quando em versos!
Parabéns!!!
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