Escrito pela Equipe do Pinga-Fogo em 21 de Setembro de 2007
E publicado em http://osgefic.org/content/view/253/79/
“Preciso muito saber onde conseguirei receber uma mensagem de minha mãe maravilhosa, que partiu já faz um ano! Ando muito aflita... Soube que tem um centro em Minas Gerais, mas moro no Rio Grande do Sul e fica difícil! Posso contar com vocês?” (Questão enviada por Janaina V.)
No 'Obras Sociais Grupo Espírita Fraternidade Irmã Celina' não realizamos atividade mediúnica voltada ao recebimento de mensagens de Espíritos familiares. A Doutrina Espírita, através de estudos experimentais, esclareceu a respeito da comunicabilidade entre o Mundo Material e o Mundo Espiritual, elucidando o quanto este fenômeno é comum e natural, demonstrando que o intercâmbio sempre aconteceu em todas as épocas da humanidade e em todas as civilizações.
À época da Codificação, a evocação de Espíritos era uma prática muito freqüente, sendo utilizado por Allan Kardec para estudos diversos. Em algumas oportunidades, antigos membros da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas foram evocados e relataram sua situação no além túmulo.
É bem verdade que diante da dor causada pela desencarnação de um ente querido, os Espíritos separados - encarnados e desencarnados - sentem saudade e a necessidade do reencontro, o que é plenamente possível.
No entanto, justificamos o fato de nossa Casa não realizar este tipo de procedimento através de valiosa lição deixada por Chico Xavier neste sentido. Quando o seu trabalho de psicografia estava no auge, ele recebia inúmeros pedidos de parentes para receber mensagens dos entes queridos desencarnados. Chico na sua humilde sabedoria, sempre evitou levar nomes para serem evocados para este fim e se justificava dizendo: "o telefone toca de lá para cá".
No atual contexto do movimento espírita, a evocação dos espíritos está quase totalmente esquecida, dando-se preferência às manifestações espontâneas. Kardec informa, no capítulo XXV do 'Livro dos Médiuns', que devemos usar "as duas maneiras de agir" (evocações e espontaneidade), pois as duas "têm suas vantagens e só haveria inconveniente na exclusão de uma delas".
No 'Livro dos Espíritos', a questão 935 explora este assunto. Na época, muitos consideravam que as comunicações de além-túmulo eram profanação.
Os Espíritos da Codificação esclarecem que não há profanação nestas mensagens, desde que "haja recolhimento e quando a evocação seja praticada respeitosa e convenientemente". Para reforçar esta opinião, os respondentes lembram dos Espíritos que acodem com prazer ao nosso chamado. Sentem-se felizes quando nos lembramos deles e por se comunicarem conosco.
O recebimento de mensagens depende da situação em que o Espírito se encontre.
Certamente, este tipo de comunicação só devem ser praticadas por grupos experientes, que tratam a questão com a seriedade devida. Caso contrário, permanecerão sob jugo de Espíritos enganadores e brincalhões, que existem por toda parte.
A Doutrina Espírita nos ensina que a possibilidade de comunicação vai depender da situação em que o Espírito se encontre. Alguns estão em estado de perturbação que os permite se comunicar, enquanto outros podem estar cumprindo tarefas importantes que os impedem de fazerem contato. Por isso devemos ter muita paciência e compreensão e aguardar o momento propício para que a comunicação aconteça. Os Espíritos que são desprendidos da matéria desde a vida terrena, tomam consciência de que estão fazendo parte da vida espírita bem cedo, porém aqueles que viveram preocupados apenas com seu lado material permanecem no estado de ignorância por longo tempo.
Emmanuel foi um grande defensor da espontaneidade em todas as comunicações com o invisível. Recomenda que o espírita-cristão deve encontrar na sua fé o mais alto recurso de cessação do egoísmo humano, ponderando quanto à necessidade de repouso daqueles a quem amou, esperando a sua palavra direta quando e como julguem os mentores espirituais conveniente e oportuno. Devemos pedir sem exigir, orar sem reclamar, observar sem pressa, considerando que a esfera espiritual nos conhece os méritos e retribuirá os nossos esforços de acordo com a necessidade de nossa posição evolutiva e segundo o merecimento de nosso coração.
Portanto, por todos estes fatores, embora seja possível se comunicar com entes queridos que já partiram, é importante que procuremos uma Casa Espírita onde os dirigentes sejam pessoas idôneas. Mesmo assim, é mais prudente tomarmos muito cuidado com as comunicações de parentes desencarnados, pois na maioria das vezes não há como identificar se ela é autêntica, principalmente se é dada por médiuns sem preparo para a tarefa. Freqüentemente, Espíritos enganadores estão ligados a estes médiuns, brincando com a dor alheia ou então estimulando o ego do médium, emprestando a este uma importância que não tem.
No mais, lembremos que existe um meio muito comum de comunicação entre os dois planos da vida: através dos sonhos. Durante a emancipação provocada pelo sono, o Espírito encarnado tem ampliada sua sensibilidade e seus sentidos, podendo se encontrar e manter diálogos com os Espíritos desencarnados de sua afeição.
Texto para Reflexão:
"Ante os que partiram"
Nenhum sofrimento, na Terra, será talvez comparável ao daquele coração que se debruça sobre outro coração regelado e querido que o ataúde transporta para o grande silêncio.
Ver a névoa da morte estampar-se, inexorável, na fisionomia dos que mais amamos, e cerrar-lhes os olhos no adeus indescritível, é como despedaçar a própria alma e prosseguir vivendo.
Digam aqueles que já estreitaram de encontro ao peito um filhinho transfigurado em anjo da agonia; um esposo que se despede, procurando debalde mover os lábios mudos de uma companheira cujas mãos consagradas à ternura pendem extintas; um amigo que tomba desfalecente para não mais se erguer, ou um semblante materno acostumado a abençoar, e que nada mais consegue exprimir senão a dor da extrema separação, através da última lágrima.
Falem aqueles que, um dia, se inclinaram, esmagados de solidão, à frente de um túmulo; os que se rojaram em prece nas cinzas que recobrem a derradeira recordação dos entes inesquecíveis; os que caíram, varados de saudade, carregando no seio o esquife dos próprios sonhos; os que tatearam, gemendo, a lousa imóvel, e os que soluçam de angústia, no ádito dos próprios pensamentos, perguntando, em vão, pela presença dos que partiram.
Todavia, quando semelhante provação te bata à porta, reprime o desespero e dilui a corrente da mágoa na fonte viva da oração, porque os chamados “mortos” são apenas ausentes e as gotas de teu pranto lhes fustigam a alma como chuva de fel.
Também eles pensam e lutam, sentem e choram.
Atravessam a faixa do sepulcro como quem se desvencilha da noite, mas, na madrugada do novo dia, inquietam-se pelos que ficaram... Ouvem-lhes os gritos e as súplicas, na onda mental que rompe a barreira da grande sombra e tremem cada vez que os laços afetivos da retaguarda se rendem à inconformação ou se voltam para o suicídio.
Lamentam-se quanto aos erros praticados e trabalham, com afinco, na regeneração que lhes diz respeito.
Estimulam-te à prática do bem, partilhando-te as dores e as alegrias.
Rejubilam-se com as tuas vitórias no mundo interior e consolam-te nas horas amargas para que te não percas no frio do desencanto.
Tranqüiliza, desse modo, os companheiros que demandam o Além, suportando corajosamente a despedida temporária, e honra-lhes a memória, abraçando com nobreza os deveres que te legaram.
Recorda que, em futuro mais próximo que imaginas, respirarás entre eles, comungando-lhes as necessidades e os problemas, porquanto terminarás também a própria viagem no mar das provas redentoras.
E, vencendo para sempre o terror da morte, não nos será lícito esquecer que Jesus, o nosso Divino Mestre e Herói do Túmulo Vazio, nasceu em noite escura, viveu entre os infortúnios da Terra e expirou na cruz, em tarde pardacenta, sobre o monte empedrado, mas ressurgiu aos cânticos da manhã, no fulgor de um jardim.
Emmanuel
(psicografia de Francisco Cândido Xavier, do livro
“Religião dos Espíritos”).
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