FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER
Pedro Leopoldo, MG — 02 DE ABRIL DE 1910 /
Uberaba, MG — 30 DE JUNHO DE 2002
Francisco Cândido Xavier, Chico Xavier ou simplesmente Chico foi
uma das mais cativantes personalidades do século passado. Deixou-nos no limiar do século atual.
Chico, na extensa caminhada de sua existência, percorreu toda uma centúria, distribuindo amor e exemplos de caridade, renúncia, trabalho e dedicação plena ao semelhante. Seguiu, em toda a extensão de seu signi-ficado intrínseco, o mandamento maior que Jesus nos legou.
Não é fácil falar de criaturas simples, porque a simplicidade traduz em si mesma a grandeza dalma, a humildade e, de modo muito particular, no caso específico de Chico Xavier, está ela interligada a vastíssima e mile-nar cultura.
Entendo que essa cultura foi, a meu modo de ver, por tê-lo conhecido e com ele convivido por longo tempo, o resultado de longa caminhada pelos milênios aqui na Terra, e porque não dizer, de anteriores vivências em algum lugar do firmamento distante.
Não fora por suas virtudes, que muito resumidamente menciono aci-ma, como explicarem-se as manifestações de carinho e afeição de parte da comunidade brasileira — de todas as religiões — a alguém que desde criança manifestou intensa ligação com os chamados fenômenos mediú-nicos, com visões, vozes, escritos de evidente inspiração espiritual, faculdades sedimentadas aos 17 anos, de tal forma a ser unanimemente considerado o maior médium de nossos tempos?
Duas terças partes do povo brasileiro reconheceram-no um exemplo de esperança e de amor na Terra, conforme pesquisa da Revista Veja no início de 1966.
Por que Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais de todo o país lhe dedicaram mais de cem cidadanias honorárias, senão pela sua labo-riosa atuação no terreno do bem e do amor do próximo?
Ressalte-se que, pelo seu trabalho na seara do bem, pela sua dedi-cação aos sofredores de todos os matizes, pelo significado de sua mensa-gem inspirada, em 1981 foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz por dez milhões de brasileiros.
O seu estado natal, com as igrejas tradicionais — incrustadas nas faldas das colinas dos burgos mineiros — divulgando, segundo os respeitáveis cânones do catolicismo, os ensinamentos de Nosso Mestre Jesus, honrou-o com o título de Mineiro do Século, em votação promovida pela Rede Globo de Minas Gerais, na virada do milênio, precisamente a 15 de novembro de 2000.
Nesse interessante pleito, Chico Xavier superou a votação de expres-sivos mineiros, como Santos Dumont, Carlos Drummond de Andrade e o popular Pelé, obtendo cerca de 705.000 votos, dois mil e quinhentos a mais que Santos Dumont.
Chico Xavier, de formação católica, tornou-se o ponto de referência do espiritismo — codificado em meados do século XVIII na França por Allan Kardec — não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. E destacou sempre, com absoluta coerência e respeito pela religião de berço, a importância de todas as religiões, que profligam, no bom combate, em essência, o materialismo, que não consola.
Aos cinco anos perdeu sua mãe, Maria de João de Deus, cujo faleci-mento deixou o pai, João Cândido Xavier, humilde operário em Pedro Leopoldo, viúvo com nove filhos, sendo Chico o caçula.
O genitor, em desespero, distribuiu temporariamente os filhos, e anos mais tarde ocorreria novo casamento com Cidália Batista, a segunda mãe de Chico, senhora boníssima, mas que logo deixaria, por falecimento precoce, esposo, filhos e uma família enriquecida por mais seis crianças...
Enquanto ficou na casa da madrinha, Rita de Cássia, o rigor dessa senhora, a quem Chico sempre endereçou palavras de agradecimento e respeito, cumulou-o de garfadas no abdome e o fez lamber feridas de outra criança, o Moacir, para curá-las.
Lambendo-as por três sextas-feiras, Chico efetivamente as curou, recordando-nos o milagre da rainha santa, Isabel de Aragão, a Santa Isabel reverenciada pelos católicos, de modo especial na Península Ibérica e no Brasil.
Devo destacar que o temperamento da madrinha permitiu ao Chico reencontrar a mãezinha tão amada, Maria de João de Deus, que, em espí-rito, aparecia-lhe no quintal da casa, à sombra das bananeiras, aconse-lhando-o a respeitar a mãe adotiva e a confiar em Deus, pois que com o tempo, ele e os irmãos teriam uma segunda mãe, amorosa e amiga.
Não pôde freqüentar a escola como desejava, cursando apenas e com dificuldade os primeiros anos de letras, devido ao trabalho duro e impla-cável que renteava as altas horas da noite, para ajudar no magérrimo orça-mento familiar.
Trabalhou dos 8 aos 12 anos numa fábrica de tecidos, enquanto freqüentava o curso primário; dos 12 aos 19 no comércio e aos 21 anos, em 1931, ingressou na Fazenda Modelo de Criação do Ministério da Agricul-tura, em Pedro Leopoldo, pelas mãos de seu diretor, Dr. Rômulo Joviano.
Já, então, na condição de funcionário público federal, trabalhou até sua aposentadoria, com singular exemplo de assiduidade.
Sua primeira mensagem psicografada ocorreu a 8 de julho de 1927, e a partir de 1931, com a supervisão espiritual explícita de Emmanuel, seu Benfeitor Espiritual, suas atividades mediúnicas, que se haviam iniciado de modo mais regular em 1927, ganharam notoriedade, com o lançamento de Parnaso de Além-Túmulo, obra poética assinada por vates respeitáveis do Brasil e de Portugal, composta de poemas que bravamente resistiram à crítica literária, que, atônita, viu pelas mãos de um mineiro simples, até então desconhecido, descer ao nosso mundo uma catadupa de luzes, sob a inspiração de conhecidos poetas patrícios e de Além-Mar.
Surgiu uma sucessão de livros, romances, crônicas, mensagens, poe-sias, cerca de 440 obras (!), cujo número aumenta paulatinamente com trabalhos póstumos que estão surgindo, quais escrínios guardados por amigos do saudoso Chico e que começam vir a lume.
Todos os livros tiveram seus direitos autorais doados por Francisco Cândido Xavier a editoras espíritas que, além de divulgá-los, sem o obje-tivo de lucro, deveriam obrigatoriamente, e o fazem, destinar recursos a tarefas de cunho filantrópico, investindo em orfanatos, asilos, creches e atividades outras de solidariedade às populações carentes de nosso país.
Foi como se o céu dos espíritas subitaneamente se povoasse de novas estrelas — as instituições beneficentes, que se multiplicavam enfatizando uma das características das atividades da doutrina: a preocupação com o semelhante, com suas dificuldades materiais e espirituais, com os padeci-mentos físicos e as dores da alma.
Milhares de milhares de famílias, que perderam entes queridos, rece-beram, por décadas, mensagens dos familiares que partiram e puderam en-contrar o norte perdido pela dor ingente, que as lágrimas testemunhavam nas reuniões públicas de Pedro Leopoldo e Uberaba.
Quem observasse Chico Xavier lendo essas mensagens após recebê-las, notaria comovido que as lágrimas inestancáveis rolavam dos olhos cansados e lhe embargavam a voz, nos últimos tempos já mais fraca e cansada...
Muitas dessas mensagens fazem parte de livros que compõem o vasto acervo produzido pelo médium, cuja produção editada atinge os vinte e cinco milhões de exemplares, dos quais Chico nunca recebeu um único centavo.
Nosso Lar, sua obra mais vendida, já supera a tiragem de um milhão e meio, e as edições de seus livros em inúmeros idiomas se multiplicam.
A mudança em janeiro de 1959 para Uberaba não alterou o rumo de sua vida de sacrifícios, não obstante a merecida aposentadoria como funcionário público federal, ligado ao Ministério da Agricultura, que viria a ocorrer em 1961.
Continuou a dedicar-se integralmente ao semelhante e à vivência do Evangelho, mergulhando noite adentro no exercício das tarefas que abra-çara e que nada neste mundo conseguia sobrestar.
Sempre dormiu pouquíssimo, e, se necessário, atendia aos que o procuravam até o sol nascer. Isso ocorria nas reuniões públicas de Pedro Leopoldo e Uberaba, nas viagens pelo país, quando do recebimento dos títulos de cidadania e nas tardes-noites de autógrafos, muitas das quais presenciei, vendo o Chico despedir-se de cada pessoa com uma rosa na mão e, nos lábios, o sorriso amigo, iluminado pelas claridades da aurora, na manhã do novo dia que se iniciava.
Havia uma particularidade no Chico que muitos dos que dele se acer-caram puderam observar: o perfume que dele transcendia, com intensidade variável e aromas diferentes.
Não era perfume, em hipótese alguma, de origem terrena, elaborado com nossas flores ou com fragrância de alfazema, e, sim, decorrente da presença constante junto dele de espíritos iluminados, como Sheilla, que o envolviam na atmosfera perfumada a evidenciar sua estatura espiritual. Era o perfume de sua alma.
Nas preces com a presença dele, se colocássemos garrafas de água para beber, o líquido incolor dos recipientes se perfumava e adquiria, por vezes, coloração branca como a neve mais pura das geleiras árticas. O mesmo ocorria com lenços que se colocavam em suas mãos. Ele no-los devolvia com perfume tão intenso e em tanta quantidade que ficavam molhados, gotejando...
Ainda guardo em casa um lenço perfumado nessas condições há 40 anos.
Em seus comparecimentos freqüentes na Televisão, soube cativar os lares que o viam e ouviam atentamente com sua mensagem de paz e espe-rança.
A apresentação que marcou sua longa convivência com a televisão brasileira deu-se em 1971, no célebre Pinga-Fogo, da TV Tupi de São Paulo, após o que Chico Xavier ocupou espaços em horários nobres, sempre com destacada audiência, nos principais programas da TV brasi-leira.
Lembra-me que Chico no Pinga-Fogo, então com 61 anos, submeteu-se a perguntas de telespectadores e do seleto grupo de personalidades do mundo cultural e meio jornalístico da época. Os lares brasileiros, magneti-zados, ouviram-lhe as ponderações a respeito de temas que estavam em evidência no início da década de 70.
Deixou-nos aos 92 anos, no início da noite de 30 de junho de 2002, do mesmo modo que sempre viveu. Sem dar trabalho a ninguém, sem demonstrar sofrimento ou qualquer ansiedade. Partiu para os Céus, para a sua Pátria Espiritual, sorrindo, como a nos dizer:
— Amados amigos, eu os amo muito. Obrigado por tudo de bom que de vocês recebi. Se mo permitirem, peço-lhes: Amai-vos uns aos outros, como o Senhor nos amou...
Chico viveu e morreu como um justo, uma alma amiga, uma criatura despojada de valores outros que não sua simplicidade e o respeito a Deus. Sofreu com o sofrimento, sem, contudo, esconder-nos o seu sorriso gene-roso, amigo, de quem sempre estava de bem com a vida.
São Bernardo do Campo, 30 de junho de 2008
Caio Ulysses Ramacciotti
Diretor Presidente do GEEM – Grupo Espírita Emmanuel
Pedro Leopoldo, MG — 02 DE ABRIL DE 1910 /
Uberaba, MG — 30 DE JUNHO DE 2002
Francisco Cândido Xavier, Chico Xavier ou simplesmente Chico foi
uma das mais cativantes personalidades do século passado. Deixou-nos no limiar do século atual.
Chico, na extensa caminhada de sua existência, percorreu toda uma centúria, distribuindo amor e exemplos de caridade, renúncia, trabalho e dedicação plena ao semelhante. Seguiu, em toda a extensão de seu signi-ficado intrínseco, o mandamento maior que Jesus nos legou.
Não é fácil falar de criaturas simples, porque a simplicidade traduz em si mesma a grandeza dalma, a humildade e, de modo muito particular, no caso específico de Chico Xavier, está ela interligada a vastíssima e mile-nar cultura.
Entendo que essa cultura foi, a meu modo de ver, por tê-lo conhecido e com ele convivido por longo tempo, o resultado de longa caminhada pelos milênios aqui na Terra, e porque não dizer, de anteriores vivências em algum lugar do firmamento distante.
Não fora por suas virtudes, que muito resumidamente menciono aci-ma, como explicarem-se as manifestações de carinho e afeição de parte da comunidade brasileira — de todas as religiões — a alguém que desde criança manifestou intensa ligação com os chamados fenômenos mediú-nicos, com visões, vozes, escritos de evidente inspiração espiritual, faculdades sedimentadas aos 17 anos, de tal forma a ser unanimemente considerado o maior médium de nossos tempos?
Duas terças partes do povo brasileiro reconheceram-no um exemplo de esperança e de amor na Terra, conforme pesquisa da Revista Veja no início de 1966.
Por que Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais de todo o país lhe dedicaram mais de cem cidadanias honorárias, senão pela sua labo-riosa atuação no terreno do bem e do amor do próximo?
Ressalte-se que, pelo seu trabalho na seara do bem, pela sua dedi-cação aos sofredores de todos os matizes, pelo significado de sua mensa-gem inspirada, em 1981 foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz por dez milhões de brasileiros.
O seu estado natal, com as igrejas tradicionais — incrustadas nas faldas das colinas dos burgos mineiros — divulgando, segundo os respeitáveis cânones do catolicismo, os ensinamentos de Nosso Mestre Jesus, honrou-o com o título de Mineiro do Século, em votação promovida pela Rede Globo de Minas Gerais, na virada do milênio, precisamente a 15 de novembro de 2000.
Nesse interessante pleito, Chico Xavier superou a votação de expres-sivos mineiros, como Santos Dumont, Carlos Drummond de Andrade e o popular Pelé, obtendo cerca de 705.000 votos, dois mil e quinhentos a mais que Santos Dumont.
Chico Xavier, de formação católica, tornou-se o ponto de referência do espiritismo — codificado em meados do século XVIII na França por Allan Kardec — não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. E destacou sempre, com absoluta coerência e respeito pela religião de berço, a importância de todas as religiões, que profligam, no bom combate, em essência, o materialismo, que não consola.
Aos cinco anos perdeu sua mãe, Maria de João de Deus, cujo faleci-mento deixou o pai, João Cândido Xavier, humilde operário em Pedro Leopoldo, viúvo com nove filhos, sendo Chico o caçula.
O genitor, em desespero, distribuiu temporariamente os filhos, e anos mais tarde ocorreria novo casamento com Cidália Batista, a segunda mãe de Chico, senhora boníssima, mas que logo deixaria, por falecimento precoce, esposo, filhos e uma família enriquecida por mais seis crianças...
Enquanto ficou na casa da madrinha, Rita de Cássia, o rigor dessa senhora, a quem Chico sempre endereçou palavras de agradecimento e respeito, cumulou-o de garfadas no abdome e o fez lamber feridas de outra criança, o Moacir, para curá-las.
Lambendo-as por três sextas-feiras, Chico efetivamente as curou, recordando-nos o milagre da rainha santa, Isabel de Aragão, a Santa Isabel reverenciada pelos católicos, de modo especial na Península Ibérica e no Brasil.
Devo destacar que o temperamento da madrinha permitiu ao Chico reencontrar a mãezinha tão amada, Maria de João de Deus, que, em espí-rito, aparecia-lhe no quintal da casa, à sombra das bananeiras, aconse-lhando-o a respeitar a mãe adotiva e a confiar em Deus, pois que com o tempo, ele e os irmãos teriam uma segunda mãe, amorosa e amiga.
Não pôde freqüentar a escola como desejava, cursando apenas e com dificuldade os primeiros anos de letras, devido ao trabalho duro e impla-cável que renteava as altas horas da noite, para ajudar no magérrimo orça-mento familiar.
Trabalhou dos 8 aos 12 anos numa fábrica de tecidos, enquanto freqüentava o curso primário; dos 12 aos 19 no comércio e aos 21 anos, em 1931, ingressou na Fazenda Modelo de Criação do Ministério da Agricul-tura, em Pedro Leopoldo, pelas mãos de seu diretor, Dr. Rômulo Joviano.
Já, então, na condição de funcionário público federal, trabalhou até sua aposentadoria, com singular exemplo de assiduidade.
Sua primeira mensagem psicografada ocorreu a 8 de julho de 1927, e a partir de 1931, com a supervisão espiritual explícita de Emmanuel, seu Benfeitor Espiritual, suas atividades mediúnicas, que se haviam iniciado de modo mais regular em 1927, ganharam notoriedade, com o lançamento de Parnaso de Além-Túmulo, obra poética assinada por vates respeitáveis do Brasil e de Portugal, composta de poemas que bravamente resistiram à crítica literária, que, atônita, viu pelas mãos de um mineiro simples, até então desconhecido, descer ao nosso mundo uma catadupa de luzes, sob a inspiração de conhecidos poetas patrícios e de Além-Mar.
Surgiu uma sucessão de livros, romances, crônicas, mensagens, poe-sias, cerca de 440 obras (!), cujo número aumenta paulatinamente com trabalhos póstumos que estão surgindo, quais escrínios guardados por amigos do saudoso Chico e que começam vir a lume.
Todos os livros tiveram seus direitos autorais doados por Francisco Cândido Xavier a editoras espíritas que, além de divulgá-los, sem o obje-tivo de lucro, deveriam obrigatoriamente, e o fazem, destinar recursos a tarefas de cunho filantrópico, investindo em orfanatos, asilos, creches e atividades outras de solidariedade às populações carentes de nosso país.
Foi como se o céu dos espíritas subitaneamente se povoasse de novas estrelas — as instituições beneficentes, que se multiplicavam enfatizando uma das características das atividades da doutrina: a preocupação com o semelhante, com suas dificuldades materiais e espirituais, com os padeci-mentos físicos e as dores da alma.
Milhares de milhares de famílias, que perderam entes queridos, rece-beram, por décadas, mensagens dos familiares que partiram e puderam en-contrar o norte perdido pela dor ingente, que as lágrimas testemunhavam nas reuniões públicas de Pedro Leopoldo e Uberaba.
Quem observasse Chico Xavier lendo essas mensagens após recebê-las, notaria comovido que as lágrimas inestancáveis rolavam dos olhos cansados e lhe embargavam a voz, nos últimos tempos já mais fraca e cansada...
Muitas dessas mensagens fazem parte de livros que compõem o vasto acervo produzido pelo médium, cuja produção editada atinge os vinte e cinco milhões de exemplares, dos quais Chico nunca recebeu um único centavo.
Nosso Lar, sua obra mais vendida, já supera a tiragem de um milhão e meio, e as edições de seus livros em inúmeros idiomas se multiplicam.
A mudança em janeiro de 1959 para Uberaba não alterou o rumo de sua vida de sacrifícios, não obstante a merecida aposentadoria como funcionário público federal, ligado ao Ministério da Agricultura, que viria a ocorrer em 1961.
Continuou a dedicar-se integralmente ao semelhante e à vivência do Evangelho, mergulhando noite adentro no exercício das tarefas que abra-çara e que nada neste mundo conseguia sobrestar.
Sempre dormiu pouquíssimo, e, se necessário, atendia aos que o procuravam até o sol nascer. Isso ocorria nas reuniões públicas de Pedro Leopoldo e Uberaba, nas viagens pelo país, quando do recebimento dos títulos de cidadania e nas tardes-noites de autógrafos, muitas das quais presenciei, vendo o Chico despedir-se de cada pessoa com uma rosa na mão e, nos lábios, o sorriso amigo, iluminado pelas claridades da aurora, na manhã do novo dia que se iniciava.
Havia uma particularidade no Chico que muitos dos que dele se acer-caram puderam observar: o perfume que dele transcendia, com intensidade variável e aromas diferentes.
Não era perfume, em hipótese alguma, de origem terrena, elaborado com nossas flores ou com fragrância de alfazema, e, sim, decorrente da presença constante junto dele de espíritos iluminados, como Sheilla, que o envolviam na atmosfera perfumada a evidenciar sua estatura espiritual. Era o perfume de sua alma.
Nas preces com a presença dele, se colocássemos garrafas de água para beber, o líquido incolor dos recipientes se perfumava e adquiria, por vezes, coloração branca como a neve mais pura das geleiras árticas. O mesmo ocorria com lenços que se colocavam em suas mãos. Ele no-los devolvia com perfume tão intenso e em tanta quantidade que ficavam molhados, gotejando...
Ainda guardo em casa um lenço perfumado nessas condições há 40 anos.
Em seus comparecimentos freqüentes na Televisão, soube cativar os lares que o viam e ouviam atentamente com sua mensagem de paz e espe-rança.
A apresentação que marcou sua longa convivência com a televisão brasileira deu-se em 1971, no célebre Pinga-Fogo, da TV Tupi de São Paulo, após o que Chico Xavier ocupou espaços em horários nobres, sempre com destacada audiência, nos principais programas da TV brasi-leira.
Lembra-me que Chico no Pinga-Fogo, então com 61 anos, submeteu-se a perguntas de telespectadores e do seleto grupo de personalidades do mundo cultural e meio jornalístico da época. Os lares brasileiros, magneti-zados, ouviram-lhe as ponderações a respeito de temas que estavam em evidência no início da década de 70.
Deixou-nos aos 92 anos, no início da noite de 30 de junho de 2002, do mesmo modo que sempre viveu. Sem dar trabalho a ninguém, sem demonstrar sofrimento ou qualquer ansiedade. Partiu para os Céus, para a sua Pátria Espiritual, sorrindo, como a nos dizer:
— Amados amigos, eu os amo muito. Obrigado por tudo de bom que de vocês recebi. Se mo permitirem, peço-lhes: Amai-vos uns aos outros, como o Senhor nos amou...
Chico viveu e morreu como um justo, uma alma amiga, uma criatura despojada de valores outros que não sua simplicidade e o respeito a Deus. Sofreu com o sofrimento, sem, contudo, esconder-nos o seu sorriso gene-roso, amigo, de quem sempre estava de bem com a vida.
São Bernardo do Campo, 30 de junho de 2008
Caio Ulysses Ramacciotti
Diretor Presidente do GEEM – Grupo Espírita Emmanuel