Apresento a todos a carta e mim enviada pelo meu amigo médico e escritor, Gilberto, enfatizando o seu ponto de vista genuinamente cristão sobre a questão social e espeitual envolvida com a prática do abortamento.
Flávio Mussa Tavares
De Gilberto Ribeiro Vieira
Eu sou contra o aborto. Acredito que todo o cristão, em sã consciência, também o seja.
A primeira contribuição que devemos oferecer é não praticar o abortamento
Conquanto para muita gente, a afeição justifique a interação sexual, uma minoria requisita de si mesmo um elemento a mais, que se pode resumir através da palavra compromisso. Portanto, além do carinho, da simpatia ou do amor que o atrai na direção da outra pessoa, o indivíduo mais maduro estabelece em sua própria consciência o dever de arcar com toda e qualquer conseqüência que advenha do intercurso sexual. Registre-se que, simbolicamente situada na cabeça, a consciência encontra-se, pois, acima do coração.
Desse modo, o relacionamento sexual de um sujeito mais sensato mostra-se uma iniciativa bastante complexa, envolvendo afeto e comprometimento. Anda no mundo, sem ser do mundo. Vê as inúmeras complicações que as criaturas se metem por conta do prazer sexual desavisado e elege a porta estreita da renúncia e da fidelidade. Numa época em que a sexolatria impera e o erotismo campeia desbragado, o cristão verdadeiro destoa da grande massa. Ele sabe que a região do quadril é onde fração expressiva da humanidade transita, temporariamente, em sua evolução rumo a estágios mais altos. É nesse nível que a força espiritual se agita e arrasta as figuras invigilantes a dolorosos desregramentos. O discípulo do Evangelho analisa, pondera e escolhe a atitude prudente de evitar o contato sexual, a menos que exista afeto e somente quando já lhe seja possível assumir uma eventual gravidez, ainda que não desejada. E, em qualquer circunstância, havendo intimidade sexual, utiliza os recursos anticoncepcionais, de preferência, associando o preservativo com algum outro.
Sou contra o aborto. A segunda contribuição que podemos oferecer é amar os nossos filhos, sem queixas pelo trabalho que a manutenção ou a educação deles reclama de nossas forças e de nosso tempo. É imprescindível amá-los com alegria. Declarar de cima dos telhados a nossa gratidão por essa tarefa bendita. Seja qual for a dificuldade, seja qual for o problema, seja qual for a angústia que, por causa deles, venhamos a experimentar, a cada dia renovaremos nossa disposição e nosso carinho. Antes de tudo, nós os aceitamos quais são, depois os educaremos, pacientemente, tendo em vista que aprendemos com Kardec a primeiro amar e só então, instruir. Dessa maneira, nós demonstraremos aos vacilantes em tomar o fardo da progenitura que, de fato, vale a pena ser pai/mãe já que o júbilo e a amizade permanecem acima de todas as aflições e aborrecimentos.
Sou contra o aborto. A terceira contribuição que nos cabe aduzir é não compactuar com a realização de qualquer abortamento. Advertir e esclarecer qualquer um que nos cruze os passos abrigando tal objetivo, destacando os aspectos positivos e sublimes da pater/maternidade. Quem sente amor pelos filhos, pelas crianças, pelo próximo, pode contagiar a pessoa que hesita ou que se dispõe ao gesto infeliz, insuflando-lhe coragem, esperança ou resignação.
Sou contra o aborto. A quarta contribuição que podemos ofertar é não incriminar os que cometem a sandice de matar o próprio filho. Existe loucura maior do que esta? Exterminar uma criatura indefesa no próprio ventre, a quem se deveria amar incondicionalmente? Só uma pessoa transtornada e inconsciente de si mesmo e da venturosa missão familiar perpetra um crime tão abominável. Diante desse alienado não é lícito ao cristão o uso do açoite ou da punição. Basta ao doente a loucura
O Movimento da Fraternidade deve ser contra o aborto e trabalhar ativamente para reduzi-lo entre os fraternistas ou naqueles que freqüentam suas atividades. Em especial, preparando e direcionando orientadores para dialogar com jovens e adolescentes sobre a sexualidade. É recomendável ter um discurso isento de preconceitos e de expectativas exaltadas de sublimação, incompatíveis com o grau evolutivo do ser humano ou da fase cultural
“Simão, uma coisa tenho a dizer-te. Dize-a, Mestre. Um certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro cincoenta. E não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois, qual deles o amará mais? E Simão, respondendo, disse: tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: julgaste bem.” (
Ser contra o aborto é fácil, o desafio é perdoar e realizar algum trabalho de prevenção ou de assistência em favor dos que cometeram o ato.
Então, amigos, é isso. Depois desse arrazoado, eu lhes pergunto: o que é pior, matar o próprio filho, num surto de insanidade espiritual, ou incriminar este louco, dispondo de uma razão lúcida?
Abraços,
Gilberto