A plataforma do Reino de Deus
(Leitura de palestra de Clóvis Tavares)
A plataforma do Reino de Deus , como alguém chamou ao Sermão da Montanha, termina com uma pequenina parábola, mas por mais estranho que seja para quem medita no sermão da montanha, para quem ama esse discurso do Monte, cheio de belezas, cheio de apelos sublimes, cheios de advertências celestiais, esta pequenina parábola dos dois fundamentos pode ser também como o prólogo de João no seu Evangelho, um prólogo para as meditações no Natal. Um prólogo que nos ensine finalmente, depois de dois mil anos de delongas nossas e de caridade permanente do Cristo, de perplexidades nossas e de sacrifícios imensos de Cristo e seus anjos e seus servos e dos espíritos sábios e benevolentes que estão sob a sua guia e as suas ordens. Esta pequenina parábola, pode ser um prólogo para estes dois mil anos de espera do coração de Cristo. Parábola para nós, para nós que precisamos pensar finalmente em construir o nosso destino como nos diz o professor Pietro Ubaldi no livro A Lei de Deus.
“Todo aquele pois, que ouve estas minhas palavras e as observa será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha e desceu a chuva e vieram as torrentes e sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa e ela não caiu, pois estava edificada sobre a rocha, mas todo aquele que ouve as minhas palavras e não as cumpre será comparado a um homem tolo que edificou a sua casa sobre a areia e desceu a chuva e vieram as inundações e sopraram os ventos e bateram com ímpeto contra aquela casa e ela caiu e foi grande a sua ruína.”
Aqui meus amigos e irmãos está a pequenina parábola, mas por ser pequenina não menos bela, não menos importante de um alcance imenso, a recordar-nos num símbolo muito antigo, como aliás muitos símbolos. O homem Rei, o homem soldado, o homem guerreiro, aqui um símbolo mais belo, o homem construtor e que somos nós, lembrando ainda mais uma vez Pietro Ubaldi: o que somos nós senão todos construtores de destinos ?
Este arquétipo do homem construtor é muito belo. Ainda mais, se nós nos recordarmos, se imaginarmos que Cristo que foi carpinteiro junto com José de Nazaré carpinteiro também naquela época eram os próprios homens, inclusive os mais pobres. Em regime de mutirão, construíam suas próprias casas. Jesus foi carpinteiro. Antes, foi o verbo encarnado, aquele que sendo rico se fez pobre para que pela sua pobreza nós nos enriquecêssemos. Imagem visível de Deus invisível, o verbo encarnado, foi também construtor como todo homem do oriente. Ele sabia que teria que construir a casa sobre a rocha. Em todas as estradas da Palestina, ainda hoje as fotografias, os álbuns, os Evangelhos ilustrados com lindas fotos, nos mostram as casas construídas sobre a rocha, casas fortes, mosteiros antigos da Idade Média, construções dos romanos, edificadas sobre a rocha. Como muitas, que existem por exemplo, nas estradas duras e rochosas, especialmente na estrada que desce de Jerusalém para Jericó. Lá, no alto, nos penhascos, as casas edificadas sobre a rocha. E os séculos passaram e as construções permanecem. Eis porque no oriente, no deserto, nas regiões de areias, nos infinitos areias do deserto os nômades não constróem casas, vivem em tendas. Tendas que eles armam e desarmam, tendas que também são um arquétipo da Bíblia. Uma palavra que aparece muito para mostrar a transitoriedade das nossas construções humanas. Na Bíblia, tenda é chamado nosso próprio corpo. Armou sua tenda entre os homens, que diríamos nós na nossa linguagem de hoje: o homem reencarnou-se na terra. Uma vida transitória. O que nós temos que construir, realmente, não é uma tenda, sempre transitória que o homem do deserto o beduíno arma e desarma nos areias sem fim. Mas construir algo na rocha.
Desde os profetas até os apóstolos, desde os apóstolos até os dias de hoje, aqueles que amam o Salvador, sabem e repetem uma expressão tão bela: Ele é a Rocha dos Séculos. Os séculos passam e Cristo permanece. Passam os grandes conquistadores, Gengis Khan , Alexandre Magno e Felipe II. Ninguém se lembra mais deles. Carlos Magno, Napoleão, até Hittler já está esquecido, já é um mito, já é figura histórica para os jovens de hoje. Todos passam. Napoleão soube sentir isso na prisão de Santa Helena:
“Todos os grandes guerreiros e conquistadores da história passaram. Só Cristo permanece para sempre. Cheguei a essa conclusão aqui no meio dessa ilha batida pelo mar, pela vastidão imensa dos oceanos. Agora compreendo que só o Cristo de Deus é eterno.“
Quando um homem orgulhoso como Napoleão Bonaparte, chega a escrever isso no seu memorial, é porque a experiência foi dura demais para ele como será dura demais para todos nós se não construirmos nossos destinos sobre a rocha dos séculos.
Todo homem é construtor! Nascemos construtores. Vide aqui como Cristo nos diz. Isso e nos dá essa certeza de uma verdade nesse arquétipo solene porque diz respeito a nossa própria felicidade e à nossa salvação. Na parábola, há um homem que constrói na rocha, outro constrói sobre a areia. Ao invés de construir uma tenda construiu uma casa com alicerce talvez de tijolos, de barro...
Todo homem é construtor e todo homem que edifica, que constrói, tem que fazer uma escolha do terreno. Todas as fundações, todas as construções que o homem fizer sofrerão os mesmos impactos da água, do vento, do clima. Terão que opor a mesma resistência. Mas Cristo nos diz que só uma permanecerá firme, esta é uma verdade fundamental! Antes, são três ou quatro verdades fundamentais desta parábola. Todos nós estamos construindo alguma coisa na nossa vida. Construindo com as nossas palavras. Falando, construímos. Silenciosamente, com os nossos pensamentos invisíveis, bons ou maus.
Construindo muito mais perigosamente, construindo muito mais seriamente, construindo muito mais a longo alcance e a longo prazo do que se fizéssemos realmente uma casa de tijolos ou de pedra, com fundações, porque estamos construindo na mente eterna. Estamos construindo no pensamento que sobreviverá a nossas construções transitórias. E as nossas ações geram carmas de ações transitórias e rápidas na face da terra. Os efeitos dos pensamentos, os efeitos das intenções permanecem vida após vida, até serem eliminados com a aceitação do carma. Ao passo que, as construções puramente humanas, podem ser muitas vezes apenas efeitos da leviandade ou da grosseria ou da ignorância do pobre homem terreno. Mas, aquele que pensa, está construindo a longo alcance, a longo prazo.
Cristo nos quer dizer, nesta parábola, que todos nós somos construtores, construímos pelo pensamento coisas que vão durar muito tempo. Estabelecemos pelo pensamento, pelo sentimento, pelas ações. Nestes três mundos em que vivemos aqui na terra: no mundo mental, no mundo dos pensamentos ou dos desejos. No mundo material, no mundo carnal e no mundo social. Dentro deste três mundo construímos permanentemente. O homem não é realmente o Homo sapiens, é o Homo constructor. Está sempre fazendo alguma coisa, sabendo ou não sabendo. Na sua sabedoria ou na sua ignorância, sendo inteligente ou néscio, prudente ou tolo, ele escolhe o terreno sobre o qual constrói a sua casa. O que quer dizer: escolhe o nível, o plano, o desígnio, a planta da vida sobre a qual edifica a sua construção espiritual e eterna, que é a sua própria existência.
“Todo aquele que ouve as minhas palavras e as cumpre e as observa será comparado a um homem prudente.”
Prudente quer dizer inteligente, sábio, ajuizado. que edificou sua casa sobre a rocha. Sobre fundamento firme, sobre fundação estável sobre alicerce garantidos, esta é a sabedoria da vida. Será que estamos fazendo isto? Se sabemos que Cristo é a Rocha dos Séculos, estamos construindo a sua vida sobre o alicerce que ele nos mostrou no Sermão da Montanha ou mais extensamente no seu Evangelho? A nossa casa está sendo construída de acordo com a planta do Evangelho, de acordo com o desenho do evangelho? Mas essa casa tanto quanto a outra sofre a mesma prova de resistência, então é o terceiro ponto de uma verdade soleníssima: todo homem é construtor, todo homem é obrigado a escolher o terreno para edificar a sua vida, o seu destino, uns são sábios, outros néscios. A inteligência escolhe a Rocha, o terreno firme. Não constrói tendas, constrói moradas. Não constrói acampamentos para diversão transitórias, para recreio de alguns dias, constrói uma morada eterna, como diz São Paulo. A construção que o néscio fez, construção sobre a areia, é construir a vida na terra de ilusão das criaturas. O néscio constrói sobre a areia, o sábio constrói sobre a rocha. O primeiro homem da parábola, o prudente, constrói sobre a rocha dos séculos. Constrói pelo desenho da planta arquitetônica dos Evangelhos. O outro, o beduíno, o viajante, o andarilho aloucado, constrói uma tenda que pode ser destruída pelos vendavais do deserto. A própria casa construída sobre a areia desavisadamente será destruída e será grande a sua ruína. Que construção afinal será esta ? Cada homem é um construtor, nós estamos construindo sempre, eu estou falando aqui e vós estais em silencio. Todos nós estamos construindo, construindo alguma coisa, isto que eu estou dizendo aqui, lembrando a parábola final do Sermão da Montanha, eu estou convicto de que isto é verdade!
Desejaria que estivesses convictos também que é preciso construir, mas construir firmemente e que construir firmemente só se consegue construindo-se sobre a rocha, mas a rocha aqui não é a terra dura, não é o penhasco da base das montanhas, não é a terra sólida, firme, da qual se fazem bons fundamentos e se lançam alicerces seguros. Nesta maravilhosa alegoria, nós podemos sentir com o coração. Ele é a Rocha dos Séculos. Construir de acordo com o Cristo. Ouvistes estas palavras, disse um dia o Senhor Jesus. Ouviste esta palavras, bem aventurados sereis se as cumprirdes! Nós estamos ouvindo aqui esta Parábola chave do Sermão da Montanha, esta Parábola que encerra o discurso do Monte. Ela nos convida a construir nossa vida, nosso destino, sob a filosofia de Cristo, de acordo com a realidade divina que Ele nos trouxe de Deus. E o verbo se fez carne e habitou entre nós e vimos a sua glória. A lei foi trazida por Moisés, mas a verdade e a graça vieram por Jesus Cristo. Construímos a nossa vida como o néscio que construiu na areia. Construímos na areia, na areia movediça da vida terrena, da instável vida terrena. Não é o que a maioria da humanidade faz ? Toda construção, construção de vida construção de destino é mais ou menos baseada em sonhos humanos, em ideais humanos. Nossos projetos, quero dizer, da quase totalidade da raça humana, nossos projetos são projetos para a Terra. Nossas construções são construções aqui na terra lodosa e triste. Nessa terra de que fala Auta de Souza;
Degredados na terra tenebrosa
Terra de sombra estranha e dolorosa
Recamada de prantos e de espinhos...
Nós construímos nessa terra dolorosa, nessa terra de sombra estranha... Aqui estão os nossos ideais, que vivem, sobrenadam e se estendem, ano após ano, como se tivéssemos que viver aqui eternamente. Nossos sonhos são plantados na terra. Nossos ideais são para um amanhã ou depois de amanhã, aqui mesmo na Terra. Quando nós falamos em futuro, falamos em futuro na Terra. Quando os pais olham para os filhos e pensam no futuro dos filhos, eles pensam em construir o futuro dos filhos aqui na Terra.
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