sábado, março 04, 2006

NUNCA VI TAL FÉ - III ( A Fé Racional)

A FÉ RACIONAL

"Entrou Jesus em Cafarnaum. Um centurião veio a ele e lhe fez esta súplica: Senhor, meu servo está em casa, de cama, paralítico, e sofre muito. Disse-lhe Jesus: Eu irei e o curarei. Respondeu o centurião: Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha casa. Dizei uma só palavra e meu servo será curado. Pois eu também sou um subordinado e tenho soldados às minhas ordens. Eu digo a um: Vai, e ele vai; a outro: Vem, e ele vem; e a meu servo: Faze isto, e ele o faz... Ouvindo isto, cheio de admiração, disse Jesus aos presentes: Em verdade vos digo: não encontrei semelhante fé em ninguém de Israel. (Mt 8:5-10)

Este é o terceiro grau da Fé!
É importante ressaltar que aquele que não possui fé alguma pode dispensar as fases da fé vacilante e da fé física e partir de uma vez para a racionalização desta grandeza espiritual quase desconhecida que é a Fé. É desse modo que o Espiritismo, doutrina racional codificada na França por Allan Kardec, tem alcançado milhares de corações sedentos do verdadeiro sentido da fé, abraçando a sua modalidade racional e razoável, que salta das páginas dos livros da Codificação e dos livros acessórios, entre os quais destacamos os psicografados pelo nosso querido Chico Xavier.
Quem também está no grua de Fé vacilante é muito facilmente ajudado pelo exercício da Fé Racionalizada.

Lamentavelmente a Fé Física é um pouco mais endurecida em sua evolução pois é muito funcional e tem elementos materiais que nos aprisionam. Quem se aferra aos seus efeitos parcialmente benéficos acomoda-se. Libertar-se dos elementos físicos da fé é como voltar a caminhar sobre as águas. Os ventos podem converter uma Fé Física vigorosa e intensa numa Fé Vacilante. Por este motivo, nem todas as pessoas estão amadurecidas para abraçar a racionalidade da Fé Espírita. A Fé Física é um estágio mais seguro que o da Fé Vacilante, embora seja mais acomodada. E é necessário Ter muito cuidado ao recomendar que pessoas abandonem os elementos materiais de sua Fé. Alguns podem perder a própria Fé.

Como Espíritas, podem também ter o passado religioso presente e se já professaram alguma denominação que se baseia na Fé Física das imagens e de outros elementos materiais, passam a apegar-se a água, ao passe ( magnético) à relíquias e continuam paralisados emocionalmente no nível da fé física em pleno aprendizado da fé racional.

No Evangelho temos a presença de um centurião romano que intercede por seu criado junto a Jesus. Homem culto, conhecedor de Filosofia Grega, do Direito Romano, de História e até mesmo da Lei Mosaica, pois disseram os judeus a Jesus:

" Ele bem merece que lhe faças este favor, pois é amigo da nossa nação e foi ele mesmo quem nos edificou uma sinagoga." (Lc 7:5)

Era um democrata, construiu a sinagoga para o povo com recursos próprios. Sabia intimamente que para ser bem reconhecido pelo povo era necessário ser sensível e bondoso, conhecedor de sua cultura e seus costumes.

Era fluente no latim e no grego e até mesmo no hebraico e aramaico, pois entendia-se bem com o povo daquela região. Mente analítica, racional, de um homem disciplinado, detentor de autoridade política e até mesmo autoridade moral, pois era querido entre os judeus.
Seu funcionário estava doente e sem esperança de cura pela medicina romana. Procurou a ajuda de Jesus, mas reconheceu-se indigno de que o Mestre fosse à sua residência.
E usou a Lógica Formal:
Se ele, soldado de alta patente tinha superiores e subordinados. Cumpria e fazia cumprir ordens à distância, sem nenhuma dúvida de que eram cumpridas. Perguntei a um aluno de nossa classe na Escola Jesus Cristo chamado Edmar, que trabalha na Petrobrás em regime Off Shore, em alto mar se algum engenheiro em terra tem dúvida do cumprimento de suas ordens nas dezenas de plataformas espalhadas em quilômetros de mar aberto. Ele me respondeu que se houver alguma dúvida, o funcionário já é transferido antes de a ordem ser emitida. Ordens são ordens! Nem nas Forças Armadas e nem na produção de petróleo existe espaço para insubordinação.
O Centurião conhecia estes princípios!

Pensou: Jesus era também um militar da alta patente divina. Deus possuía exércitos que estavam sob às ordens daquele homem simples. O Centurião sabia. As suas ordens seriam cumpridas à distância, como as suas próprias eram cumpridas em qualquer parte da Palestina imediatamente.

E admirou-se Jesus em Mt 8:10, que não conhecia em Israel aquela espécie de Fé. Em outras palavras, aquela categoria de fé racional não existia na mente judaica.

Somos herdeiros da cultura judaica que nos legou o Cristianismo. Mas também somos herdeiros da cultura helenizada dos romanos. Perguntamos, comparamos, medimos, pesamos.
Esse foi o trabalho de Kardec: ensinar o povo a burilar a sua Fé. Uma Fé que não vacila, capaz de argumentar. Uma Fé Inabalável, capaz de encarar frente a frente a razão em qualquer época da humanidade.

Os discípulos pediram uma vez a Jesus: "Senhor, aumenta-nos a Fé" (Lc 17:5).

E isso é possível graças à racionalização. Se estudamos, se acreditamos, se temos provas que a doutrina é válida para nossa mentalidade, então é necessário agir como quem realmente acredita! A Doutrina Espírita é um imenso manancial oferecido por Deus a nós outros para acrescentar fé a nossa vida. É uma resposta ao pedido dos discípulos: - Acrescenta-nos Fé! E nos deu uma Doutrina que ensina a exercitara a Fé pela Razão! Que aumente a nossa carga de Fé, pelo exercício e que evolua a categoria de nossa Fé, abalizada pela Razão.

Esta Fé segura, confortável, renovadora, permite saibamos nos defender das artimanhas dos obsessores que tentam nos intimidar. Responder ao mal com as doutrinas da razão é sempre um ponto inquebrantável da fé.
Todo espírita sabe quando é testado na fé. Pode ser testado por companheiros encarnados e desencarnados. Há uma grande organização espiritual interessada em desestabilizar os arcabouços da nossa fé raciocinada. Somos também cobrados pela sociedade: Diante de qualquer vacilação, escutamos os hipócritas de todos os tempos: "Como pode, era espírita!"
Por isso Espíritas! Cuidado! Armemo-nos de coragem e preparemo-nos para os ataques. A hora da Prova é a hora em que estamos preparados. Deus nos envia os testes desde que nos sintamos prontos para eles. Mesmo que na hora a taquicardia venha, o desconforto digestivo, a hiperidrose palmar, a palidez e todos os sintomas físicos de uma reação neurovegetativa, respiremos fundo e sigamos em frente. Um professor ajuda o aluno quando, ao perceber, que ele sendo um aluno aplicado, é vítima destas reações, lhe chama a atenção, com voz alta, pede que respire e domine-se. Quando o aluno volta a si, pode recomeçar a prova com a autoconfiança recuperada. Se o professor ficar com aquela piedade vazia e chamar a mãe do seu aluno, ele dificilmente recuperará a autoconfiança. Assim, diante desta armadilha orgânica, dessa cilada de nosso subconsciente, lutemos, respiremos a longos haustos, centralizemos e focalizemos o nosso pensamento no problema em questão.

Os nossos amigos espirituais querem nos ajudar a lutar e vencer. Os nossos falsos amigos querem, com a malícia da falsa piedade, fazer-nos desistir. É uma artimanha! Não aceitemos a derrota facilmente! Lutemos até o fim, sempre!
Essa é a lição da Fé Raciocinada! Essa é a lição que Kardec nos legou! Essa é a nossa Doutrina progressista e evolucionista! Não percamos o ponto de referência. Ele nos fará sempre recobrar o centro da consciência nos momentos difíceis de provação e nos fará manter o domínio racional da Fé!
Esta terceira categoria de Fé é a mais fácil de ser controlada e apreendida pelo espírita sincero. Ela depende do Estudo, pois somente na posse de um conhecimento razoável é que poderemos centralizar o nosso pensamento nas horas de dificuldade. Esta é a nossa referência! Este é o nosso farol no mar agitado durante a noite dos tempos.
A Lei é justa e generosa!
A sua generosidade consiste no fato de que os nossos erros são perdoados na forma de renovação de nossas oportunidades. Não é um Indulto, pois a nossa ficha não está apagada. Emmanuel nos fala no livro Justiça Divina: "Em nossas faltas, somos na maioria das vezes, perdoados, mas não limpos."
A Fé Raciocinada é uma excelente ferramenta para a nossa evolução dirigida e controlada. Revisemos o nosso estado emocional. Avaliemos as nossas possibilidades e tracemos os nossos propósitos espirituais. Estamos diante de uma evolução possível. Busquemos orientação espiritual em nossas orações, no nossa instituição espírita, em nosso culto do lar, de modo a recebermos a ajuda de nossos abonadores da espiritualidade, dos fiadores de nossa encarnação, de nossos espíritos guardiães. Eles certamente indicarão o ponto certo a alcançar. A nossa missão é atingir o ponto possível. A Fé Raciocinada é o maior legado do Consolador. Projetar os nossos destinos nesta e na próxima vida, que é encadeada a esta, é a nossa conquista de liberdade espiritual.

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