sexta-feira, setembro 29, 2006

A PIEDADE


" A piedade é a virtude que mais vos aproxima dos anjos; é a irmã da caridade, que vos conduz a Deus. Ah! deixai que o vosso coração se enterneça ante o espetáculo das misérias e dos sofrimentos dos vossos semelhantes. Vossas lágrimas são um bálsamo que lhes derramais nas feridas e, quando, por bondosa simpatia, chegais a lhes proporcionar a esperança e a resignação, que encanto não experimentais! Tem um certo amargor, é certo, esse encanto, porque nasce ao lado da desgraça; mas, não tendo o sabor acre dos gozos mundanos, também não traz as pungentes decepções do vazio que estes últimos deixam após si Envolve-o penetrante suavidade que enche de jubilo a alma. A piedade, a piedade bem sentida é amor; amor é devotamento; devotamento é o olvido de si mesmo e esse olvido, essa abnegação em favor dos desgraçados, é a virtude por excelência, a que em toda a sua vida praticou o divino Messias e ensinou na sua doutrina tão santa e tão sublime.

Quando esta doutrina for restabelecida na sua pureza primitiva, quando todos os povos se lhe submeterem, ela tomará feliz a Terra, fazendo que reinem aí a concórdia, a paz e o amor.

O sentimento mais apropriado a fazer que progridais, domando em vós o egoísmo e o orgulho, aquele que dispõe vossa alma à humildade, à beneficência e ao amor do próximo, é a piedade! piedade que vos comove até às entranhas à vista dos sofrimentos de vossos irmãos, que vos impele a lhes estender a mão para socorrê-los e vos arranca lágrimas de simpatia. Nunca, portanto, abafeis nos vossos corações essas emoções celestes; não procedais como esses egoístas endurecidos que se afastam dos aflitos, porque o espetáculo de suas misérias lhes perturbaria por instantes a existência álacre. Temei conservar-vos indiferentes, quando puderdes ser úteis. A tranqüilidade comprada à custa de uma indiferença culposa é a tranqüilidade do mar Morto, no fundo de cujas águas se escondem a vasa fétida e a corrupção.

Quão longe, no entanto, se acha a piedade de causar o distúrbio e o aborrecimento de que se arreceia o egoísta! Sem dúvida, ao contacto da desgraça de outrem, a alma, voltando-se para si mesma, experimenta um constrangimento natural e profundo, que põe em vibração todo o ser e o abala penosamente. Grande, porém, é a compensação, quando chegais a dar coragem e esperança a uni irmão infeliz que se enternece ao aperto de uma mão amiga e cujo olhar, úmido, por vezes, de emoção e de reconhecimento, para vós se dirige docemente, antes de se fixar no Céu em agradecimento por lhe ter enviado um consolador, um amparo. A piedade é o melancólico, nas celeste precursor da caridade, primeira das virtudes que a tem por irmã e cujos benefícios ela prepara e enobrece. - Miguel. (Bordéus, 1862)Evangelho Segundo o Espiritismo Cap.13, ítem 16.

Temos duas acepções principais para Piedade.
A primeira, mais conhecida, que é a abordada pelo espírito Miguel no Evangelho Segundo o Espiritismo, é a da compaixão, da comiseração pelo sofrimento alheio. Ele nos lembra uma coisa muito simples, é possível que abafemos os nossos sentimentos. Vejam que analogia forte! Sentimento abafado é um sentimento asfixiado, impedido de sobreviver.
Neste mundo de ansiedade e pressa, é realmente fácil para o ser humano produzir uma hipóxia na sua emotividade. Fala-se muito hoje nos transtornos afetivos. São a coqueluche da moderna psicologia comportamental. São transtornos emocionais onde está comprometida a capacidade do ser humano de sentir.
E assim como é necessário buscar um exercício prático pra desenvolver habilidades técnicas corporais e intelectuais, como o atletismo, as ciências, é possível também exercitar a nossa capacidade de sentir. Jesus teve piedade da multidão com fome (Mt 15:32).
O apóstolo da gentilidade nos pede:

"Exercita-te na piedade. Se o exercício corporal traz algum pequeno proveito, a piedade, esta sim, é útil para tudo, porque tem a promessa da vida presente e da futura." I Tm 4:8.


Ele mesmo, como um homem culto, que na época foi educado como um romano, deve ter exercitado as artes corporais. A sua cultura física era helênica e é possível que Paulo tivesse tido uma formação atlética na sua juventude, parte de sua aculturação romana. é por isso que ele faz a analogia do exercício da piedade com os exercícios corporais. Ora, o ocidente exercita o corpo isoladamente do seu espírito. Sabe-se que na cultura oriental, da qual os gregos herdaram o "mens sana in corpore sano" é uma autêntica fusão do somático com o psíquico. Um iogue enquanto faz sua prática física, está em comunhão com Deus.

E é justamente esta a segunda acepção de Piedade. O sentimento religioso, o amor pelas coisas celestiais, a devoção a Deus, o culto ao que é sagrado, o sentimento de religiosidade e de sacralidade.

E como são desconhecidas do homem moderno estas questões. A vida prática e sofisticada tornou-nos distantes do Temor a Deus. Temos Medo das coisas que nos são apresentadas pelos obsessores para nos afastar de nossos deveres e esquecemos de respeitar aquilo que é realmente sagrado. Banalizou-se a religiosidade, intelectualizou-se o homem , perdeu a confiança na suficiência de Deus como gerador e mantenedor da vida. A hipertrofia da ciência afastou-nos de Deus, mas fragilizou-nos o espírito a ponto de sermos vítimas da instabilidade emocional moderna. Somos fóbicos frente ao mundo e intimoratos frente a Deus. Não fazemos o que é certo por que temo medo e fazemos o que é errado por que não respeitamos ao Senhor.
Que ironia! Que confusão!
Paulo previu isso na sua segunda epístola a Timóteo:

"Nota bem o seguinte: nos últimos dias haverá um período difícil.
Os homens se tornarão egoístas, avarentos, fanfarrões, soberbos, rebeldes aos pais, ingratos, malvados,
desalmados, desleais, caluniadores, devassos, cruéis, inimigos dos bons,
traidores, insolentes, cegos de orgulho, amigos dos prazeres e não de Deus,
ostentarão a aparência de piedade, mas desdenharão a realidade. Dessa gente, afasta-te!
Deles fazem parte os que se insinuam jeitosamente pelas casas e enfeitiçam mulheres carregadas de pecados, atormentadas por toda espécie de paixões,
sempre a aprender sem nunca chegar ao conhecimento da verdade.
Como Janes e Jambres resistiram a Moisés, assim também estes homens de coração pervertido, reprovados na fé, tentam resistir à verdade.
Mas não irão longe, porque será manifesta a todos a sua insensatez, como o foi a daqueles dois. (II Tm 3:1- 9)


Essa geração é a nossa. Somos vítimas da impiedade. Buscamos todos os meios para nos euforizar artificialmente por que não obtemos mais alegria de viver. Queremos fazer muitas coisas, por que não sabemos mais ficar parados. Queremos barulho das bandas de rock, rolando as pedras, as pedras dos bárbaros, dos australoptecos, dos hooligans, dos skinheads, dos funkeiros...E de tanto barulho não escutamos mais a voz de Deus nos procurando, nos chamando, nos advertindo...
Essa fase de impiedade dos tempos modernos é muito grave, pois permitimos que nossos corações endurecessem, como nos previu Paulo.
Jesus também disse o que tem o mesmo significado que estas duras palavras de Paulo:

"E, ante o progresso crescente da iniqüidade, a caridade de muitos esfriará."(Mt 24:12)

Esfriar é uma ação que nos dá idéia de duração. O amor, a caridade enfraquece paulatinamente, por causa do crescimento da impiedade. A impiedade cresce no terreno fértil do individualismo, da vaidade, das insaciáveis necessidades materiais, da competitividade, do ciúme, do afastamento da verdade. Foi a isso que Paulo se referiu, quando deu o exemplo dos magos egípcios que resistiram a Moisés. Eles conheceram a verdade pela ciência, mas resistiram no coração. Estamos hoje defrontados com uma multidão que quer cada vez mais buscar o materialismo por causa dos seus benefícios aparentes. Quem buscar cada vez mais o materialismo por causa das comodidades proporcionadas por ele.
E busca abafar, asfixiar a fé e o amor que existem dentro de todos nós, pois somos feitos à imagem e à semelhança de Deus.
Assim, exercitar a Piedade compaixão no exercício da caridade cristã e não deixar arrefecer dentro de nós o respeito pelas coisas espirituais, pelo Amor a Deus, pela religiosidade, pelo reconhecimento de que existem níveis da existência que estão acima de nossas concepções estreitas e que a reverência pela vida, é também amar a Deus. Sentir o próximo como se fôssemos nós mesmos, é também amar a Deus.
E repetir com Jesus o mandamento máximo:

"Achegou-se dele um dos escribas que os ouvira discutir e, vendo que lhes respondera bem, indagou dele: Qual é o primeiro de todos os mandamentos? Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é este: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor; amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças. Eis aqui o segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior do que estes não existe. (Mc 12:28:31)

terça-feira, setembro 19, 2006

Entrevista de Alcione Peixoto sobre Peixotinho.

O " ESPIRITISMO CRISTÃO" Apresenta a Entrevista dada pela nossa irmã Alcione Peixoto ao site
"Portal do Espiritismo"
1- QUEM FOI PEIXOTINHO?
R. Para os espíritas foi o grande médium de efeitos físicos que veio como contemporâneo de seu amigo Chico Xavier, para, através de sua mediunidade, levantar mais uma pontinha do véu que envolve as realidades do mundo dos espíritos. O que André Luiz descortinava pela psicografia de Chico Xavier era materializado aos olhos dos presentes a essas reuniões de ectoplasmia. Aparelhos descritos por André Luiz em sua obra estiveram sob os olhos dos encarnados. Exemplo disso é o psicoscópio, que ausculta a alma com poder de definir-lhe as vibrações e efetua diversas observações sobre a matéria, como explica André Luiz no livro Nos Domínios da Mediunidade. Peixotinho complementava a obra de Chico com a comprovação daqueles fatos. Por isso vieram na mesma época. Diferencia-se dos demais medianeiros de efeitos físicos pela espontaneidade e autenticidade dos fenômenos e pela luminosidade dos espíritos que por ele se materializavam. A luz era tão intensa que a assistência precisava fechar os olhos até se habituar a ela lentamente. Exemplo disso foram as materializações de Bezerra de Menezes, Clarêncio e outros menos conhecidos do mundo espírita, mas de igual evolução.Para nós, seus filhos, e para os amigos que nos freqüentavam o lar simples, Peixotinho era o amigo, era alegria, bom humor, simplicidade, humildade, e doçura constantes. Sua capacidade de compreender as pessoas, sua compaixão, sua hospitalidade, sua imensa capacidade de perdoar, foram sempre destacadas por todos que o conheceram. Ele e Baby, nossa mãe, foram missionários silenciosos do espiritismo no Brasil. Juntos, eram como farol a iluminar muitas vidas. Muitos Templos Espíritas se multiplicaram a partir deles por nossa região e pelo Brasil.

2-QUANTOS IRMÂOS VOCÊ TEM?
R. Peixotinho teve nove filhos. Uma das filhas - Araci - desencarnou com pouco mais de um ano de idade. Criou com sacrifício os oito filhos. Um único homem (o mais velho) e sete mulheres. Portanto, tenho seis irmãs. Uma destas - Ceila - desencarnou há quinze dias, no dia 20 de agosto de 2006.

3-COMO ERA A VIDA NORMAL DE PEIXOTINHO?
R. Ele militar do Exército e, por isso, teve a vida muito agitada por transferências constantes. Para onde era transferido buscava os espíritas do lugar e instalava logo o receituário homeopático. Era psicógrafo, médium mecânico, vidente, audiente etc. Embora seu compromisso fosse com a ectoplasmia, a ele abria-se um imenso leque de possibilidades mediúnicas. A presença de minha mãe em sua vida acompanhando-o aonde quer que ele fosse, foi o grande amparo ao seu trabalho. Peixotinho era um homem antenado com seu tempo. Acompanhava a política, o futebol como qualquer outro brasileiro. Gostava muito de cinema, de música, tanto as clássicas como os ritmos que lhe lembrava o seu nordeste distante. Gostava muito de conversar, de receber visitas, e, sobretudo de viajar. Nossa casa era sempre cheia. Muito alegre, os nossos colegas jovens adoravam estar conosco e conversar com papai. Também a chegada constante de doentes de todo o Brasil que vinham em busca de tratamento de saúde movimentava nossa casa. Doentes do corpo e da alma e até mesmo doentes mentais. Ele abrigava a todos junto a nós, seus filhos, sua família, com a maior naturalidade e com fé na recuperação de todos. Muitos batiam à nossa porta vindos de cidades distantes sem nos conhecer. E vinham com grandes malas para ficar até o fim do tratamento, na certeza de que teriam abrigo certo nessa casa simples onde hoje eu moro.

4- COMO SE TORNOU ESPÍRITA?
R. Pela própria mediunidade. Na adolescência, em fase de explosão mediúnica aguda, passou por um processo de catalepsia do qual só despertou depois de já estar amortalhado, o que chamou a atenção de muita gente. A notícia correu e o grande tribuno espírita, Major Viana de Carvalho que, na época, ocupava posto de comando em unidade do Exército Brasileiro no Ceará, tomou conhecimento do sofrimento daquele jovem e foi em seu socorro. Saiu desse episódio paraplégico. Foi amparado pela casa espírita que mais tarde veio a ser a Federação Espírita do Estado do Ceará, onde Viana de Carvalho atuava. Com passes e água fluídica ficou curado. Foi Viana de Carvalho o seu orientador na seara espírita. E Peixotinho foi fiel às orientações desse mestre, mantendo por toda sua vida fidelidade a Jesus e a Kardec.
5-QUANDO É QUE ELE DESCOBRIU QUE TINHA CAPACIDADE DE PROMOVER MATERIALIZAÇÕES?
R. Foi em Macaé, em 1936, no Grupo Espírita Pedro e soube por revelação dos espíritos que deram todas as instruções para a realização das reuniões de efeitos físicos. Muitos obstáculos foram vencidos entre eles a sua saúde deficiente, já que era portador de uma asma que não lhe dava descanso, e a falta de preparo espiritual dos assistentes, tendo em vista que ele foi o primeiro médium com tarefa tão definida, numa área mediúnica dedicada exclusivamente ao tratamento de doentes.

6-DAS VÁRIAS MATERIALIZAÇÕES QUE REALIZOU QUAL A QUE MAIS O IMPRESSIONOU?R. Ele não assistia às materializações. Saía do corpo físico levado por uma equipe da espiritualidade. Voltava contando-nos maravilhas da vida espiritual. Contudo, vibrava com os relatos dos companheiros a respeito dos espíritos de luz que se materializavam. Creio que o relato que mais o impressionou foi a descrição do Ministro Clarêncio, de Nosso Lar, que visitou o Grupo Aracy, onde ele atuava como médium. Também a descrição da doçura de Dr. Bezerra de Menezes e de Nina Arueira que na Terra fora noiva do Prof. Clóvis Tavares. Uma senhora costureira que a viu, disse que teve vontade de copiar seu vestido tecido em luz como se fosse de um luar brilhante. Outra bem comentada foi a de sua filha Aracy, espírito de muita luz, desencarnada em 1937, que se materializou vestida como uma linda moça em trajes típicos da Espanha. Sheilla, José Grosso e outros estavam sempre conosco. Essas reuniões eram dirigidas pelo espírito Garcês.

7- E A FAMÍLIA, COMO RECEBIA ESSAS REALIZAÇÕES DO QUERIDO MÉDIUM?
R. Toda a família se beneficiava espiritualmente de seus dons mediúnicos. Fomos muito protegidos pelos benfeitores para que ele produzisse melhor. Ele fazia conosco um culto diário, onde estudávamos o Novo Testamento e ele ficava feliz com nosso progresso no conhecimento dos relatos do Evangelho de Jesus. Lastimo que os lares espíritas não cultivem o hábito de ler o Novo Testamento. Durante nossas orações, os benfeitores compareciam para abençoar nossa infância feliz, premiando-nos com a materialização de flores e perfumes que jorravam sobre nossas pequeninas cabeças. Materialmente éramos muito pobres, mas não nos dávamos conta disso. Nosso lar era tão bom, feliz e alegre!...

8-ALGUÉM MAIS DA FAMÍLIA TEM ESSE TIPO DE MEDIUNIDADE?R. Sim. Mas não tão ostensiva como a de Peixotinho. Eu e Joana chegamos a atuar como médium auxiliar. Joana dedicou-se mais à tarefa de efeitos físicos. Agora um sobrinho e um dos meus filhos apresentam fortes indícios dessa mediunidade. Nossas tarefas na doutrina, contudo, não se prendem a essa forma mediúnica. Trabalhamos, eu minhas irmãs Nina e Joana com outras dons mediúnicos. Mas os espíritos, com certeza, aproveitam-nos sempre a possibilidade de doação ectoplásmica em benefício de doentes. Mesmo que não tenhamos disso consciência.

9- AQUELES QUE NA ÉPOCA VIVIAM EM CONTATO COM A FAMÍLIA AINDA SE MANTÊM AMIGOS DE VOCÊS?R. A maioria dos amigos que nos freqüentava já desencarnou. Os que permanecem na Terra estão sempre conosco. Também os filhos deles continuam a fazer parte de nosso círculo de relações. Todos relembram com uma saudade bonita e suave os momentos vividos em nossa casa. Uma das senhoras aqui tratadas de um câncer na década de 50 e que ainda vive no Rio, chama nossa casa de "Cantinho do Céu".

10- COMO ERA A VIDA DE VOCÊS TENDO UM PAI TÃO CONHECIDO E COMENTADO NO MEIO ESPÍRITA?
R. A vida comum de toda juventude da época, acrescida das tarefas junto aos sofredores, como visita aos doentes, presídios e a lares pobres onde levávamos alimentos e roupas. Isso desde nossa primeira infância era um fato tão normal como o era para nós a mediunidade dele. Quando menina, eu achava que em todas as casas aconteciam tais fenômenos e se convivia naturalmente com os Espíritos. Descobri que nossa casa era diferente através de uma grande dor. Contei fatos acontecidos em casa na escola e fui muito castigada. Narro tudo isso no livro "MATERIALIZAÇÃO DO AMOR" do prof. Humberto Vasconcelos, editado pela DOXA, que considero a melhor obra sobre Peixotinho. Na verdade nunca o vimos como alguém especial, diferente. Sua humildade extrema não nos permitiu dimensionar sua importância para o desenvolvimento do Espiritismo no Brasil. Todos que o conheceram de perto têm a mesma opinião. Só depois de sua morte pudemos avaliar a grandeza de sua obra e de seu espírito. O próprio Chico Xavier, em conversa com o prof. Clóvis Tavares, certa vez, tira do bolso do paletó um retrato de Peixotinho e afirma que foi o maior médium de efeitos físicos que ele conheceu e referiu-se a sua humildade para justificar a pouca divulgação dada à época ao seu trabalho, dizendo que Peixotinho era muito evangelizado, daí os fenômenos serem tão luminosos.

11- COMO É A VIDA DA FAMÍLIA HOJE SEM A PRESENÇA DO MÉDIUM?
R. Sua presença continua uma constante em nossas vidas. Eu, particularmente, estou sempre a receber-lhe as orientações amigas. Falamos tanto nele que seus netos e bisnetos que não o conheceram têm a maior familiaridade com ele e citam-no sempre. Alguns dos seus filhos dedicaram-se mais intensamente às tarefas espíritas. Uns na tribuna, outros nas tarefas mediúnicas ou assistencial e outros guardam só na memória suas lições e se esforçam por praticá-las na vida, sem, porém, manterem maior vinculação com a Casa Espírita. Alguns de seus netos já militam com brilhantismo na tribuna espírita no Recife, são doutrinadores, médiuns, evangelizadores etc.

12- QUAIS AS LEMBRANÇAS E OBJETOS QUE A FAMÍLIA GUARDA DAS MATERIALLIZAÇÕES QUE PEIXOTINHO REALIZAVA?R. Como Chico Xavier, ele distribuía tudo. Às vezes queríamos guardar uma pedra bonita que os espíritos nos davam, mas logo chegava alguém que a vira cair e pedia-nos. Delicadamente, ele nos sugeria a dádiva. Depois dizia-nos: "vocês têm isso tudo todos os dias...". Obedecíamos. Por isso ficamos sem nada material, a não ser alguns poemas escritos pelos próprios espíritos materializados. Mas ficamos com a melhor parte, como Maria de Betânia, as lembranças e os exemplos que nos cabe multiplicar.

13- O QUE NÃO TE PERGUNTEI E QUE VOCÊ GOSTARIA DE RESPONDER?R. A sua entrevista foi bem abrangente e possibilitou-me saudosos relatos. Gostaria, porém, de reafirmar que não existem bons médiuns sem que exista antes um bom homem, um homem cristão em todas as horas de seu dia. Esse é o grande medianeiro a serviço de Jesus na Terra.

14- MANDE SEU RECADO FINAL AOS AMIGOS DO PORTAL DO ESPIRITISMO

.R. Que os companheiros do PORTAL DO ESPIRITISMO se unam às minhas preces de gratidão a Jesus por proporcionar aos homens tantos avanços tecnológicos e por estarem os senhores utilizando essa tecnologia a serviço do desabrochar dos mais elevados sentimentos no espírito dos homens; unindo, assim, conhecimento a sentimento, equilibrando as asas suaves que nos permitirão o vôo definitivo no rumo do Amor de Deus. Mesmo sabendo de minha pobreza espiritual, disponibilizo-me sempre para qualquer atividade em que possa ser útil ao trabalho dos senhores. Que Jesus os ilumine!

Alcione Peixoto Cordeiro. Em Campos dos Goytacazes, 5 de setembro de 2006.
O Portal do Espiritismo agradece de coração a atenção que nos foi dispensada por Alcione Peixoto, na concessão desta entrevista que nos possibilita conhecer mais de perto a vida desse extraordinário médium, rogando a Deus que onde estiver o nosso querido Peixotinho, Jesus com ele também esteja, e a você querida Alcione e a toda família, nossos votos de que todos tenham sempre a assistência dos Bons Espíritos.

terça-feira, setembro 12, 2006

DIA DE AUTA DE SOUZA, 12 DE SETEMBRO

Poesia em vida ( Horto, 1900)

FIO PARTIDO

Fugir à mágoa terrena
E ao sonho, que faz sofrer,
Deixar o mundo sem pena
Será morrer?

Fugir neste anseio infindo
À treva do anoitecer,
Buscar a aurora sorrindo
Será morrer?

E ao grito que a dor arranca
E o coração faz tremer,
Voar uma pomba branca
Será morrer?

II

Lá vai a pomba voando
Livre, através dos espaços...
Sacode as asas cantando:
“Quebrei meus laços!”

Aqui, n’amplidão liberta,
Quem pode deter-me os passos?
Deixei a prisão deserta,
Quebrei meus laços!

Jesus, este vôo infindo
Há de amparar-me nos braços
Enquanto eu direi sorrindo:
Quebrei meus laços!
(Janeiro de 1901, no HORTO)


O SENHOR VEM...
E eis que Ele chega sempre de mansinho,
Haja sol, faça frio ou tempestade;
Veste o manto do amor e da verdade,
E percorre o silêncio do caminho.

Vem ao nosso amargoso torvelinho,
Traz às sombras da vida a claridade,
E os próprios sofrimentos da impiedade
São as bênçãos de luz do seu carinho.

Como o Sol que dá vida sem alarde,
Vem o Senhor que nunca chega tarde,
E protege a miséria mais sombria. Ele chega.

E o amor se perpetua...
É por isso que o homem continua
Ressurgindo da treva a cada dia
(Psicografia de Francisco Cândido Xavier, no Parnaso de Além Túmulo)

quarta-feira, setembro 06, 2006

Chico, Diálogos e Recordações...

Maria Aparecida Vidigal

O livro, aqui apresentado, foi constituído a partir do recolhimento das memórias transmutadas em narrativas de Arnaldo Rocha, sobre as experiências que este viveu com Francisco Cândido Xavier, em Pedro Leopoldo e região.



Chico, Diálogos e Recordações... é uma obra leve e ao mesmo tempo impregnada de lições acerca de experiências vividas e lições apreendidas por seres que se uniram pelos laços espirituais no orbe terreno.
O estilo de escrita é um híbrido de diálogos, narrativas e impressões daqueles que, durante quatro longos anos, encontravam-se para conversar sobre o médium Chico Xavier. De um lado, um jovem e dedicado obreiro da Seara Espírita, Carlos Alberto Braga Costa; do outro lado, a experiência evidenciada pelas cãs de um altivo senhor, trabalhador incansável da Doutrina Revelada por Jesus e Codificada por Allan Kardec, Arnaldo Rocha.
A obra escrita em 21 capítulos traz à comunidade espírita momentos de reflexão e de aprendizado. Particularmente, sob este prisma, o livro é dadivoso em lições, pois nos aproxima e nos cientifica de que a evolução dos seres humanos nas lides terrenas é possível e inevitável, conforme asseverou Allan Kardec: “A Humanidade progride, por meio dos indivíduos que pouco a pouco se melhoram e instruem. (...) O progresso dos povos também realça a justiça da reencarnação.”
O Espírito Chico Xavier, por exemplo, não só “desceu” de esferas superiores para trazer belas obras sobre as Revelações do Consolador; também, vivenciou através de milênios, experienciou vidas diversas de amores incontroláveis, sofrimentos, angústias e momentos de profundo encarceramento físico e espiritual, até, finalmente, poder apresentar-se nesta encarnação como um dos mais profícuos escritores da Doutrina dos Espíritos, sempre amparado por seus amigos espirituais e companheiros da lide terrena.
Existe um provérbio chinês que diz: “A pedra não pode ser polida sem fricção, nem o homem ser aperfeiçoado sem provação”. Em Chico, Diálogos e Recordações.., a vida do narrador, assim como a de tantos outros amigos para sempre, é prova de que para atingirmos o aperfeiçoamento e a beleza do esplendor de uma pedra preciosa, precisamos, antes, percorrer um caminho de provações, dores e burilamento de nossas tendências. Este caminho que, a priori, apresenta-se difícil é suavizado pelo exemplo de vida de Jesus, pelos ensinamentos da Revelação Espírita e por nosso esforço individual de melhorarmos a cada dia um pouco mais.
Arnaldo Rocha, nosso querido narrador, através de seu percurso de descrença, grandes batalhas, empreendimentos faraônicos e decepções nas mesmas proporções, chega, nesta encarnação, ainda materialista, até encontrar e perder o coração querido de Meimei, e, em seguida, reencontrar outro: Chico Xavier. A lição mais marcante deste espírito Rocha – os nomes não são ao acaso – não é observá-lo hoje, na beleza de seus 82 anos, na firmeza de suas convicções doutrinárias e na fidelidade para com seus amigos, muitos já no plano espiritual. A grandeza desse homem reside no caminho por ele percorrido ao longo das sucessivas vivências carnais, nos obstáculos superados e nas dores transmutadas em benções de aprendizado. Esse percurso narrado no livro nos remete à promessa de Jesus, quando nos diz que “nenhuma das ovelhas que o Pai me confiou se perderá.”
Vale destacar, ainda sobre esta bela obra, a importância da memória, como receptáculo das lembranças de Arnaldo Rocha. A memória, conforme nos elucida André Luiz “(...) é um disco vivo e milagroso. Fotografa as imagens de nossas ações e recolhe o som de quanto falamos e ouvimos... Por intermédio dela, somos condenados ou absolvidos de nós mesmos.” O redator dessas memórias, Carlos Alberto Braga Costa, com disciplina, responsabilidade, lealdade e fé fez-se instrumento indispensável para que hoje esta obra traduzida em diálogos e recordações estivesse ao alcance de todos nós.
Em tempos remotos os homens transmitiam o conhecimento às gerações, através dos recursos da memória e da narrativa oral. Os sábios anciãos, acomodados em locais tranqüilos, relatavam aos jovens escolhidos as tradições e experiências de seu povo. E estas experiências, posteriormente lapidadas, eram transferidas por sucessivas gerações do porvir. Desse modo, verificamos a importância da memória para a evolução das primeiras civilizações do Planeta.
Chico, Diálogos e Recordações..., guardadas as proporções espaciais e temporais, remete-nos aos tempos antigos, em que as revelações eram registradas nas almas dos aprendizes, que, posteriormente, transformavam-nas em conhecimento para que outros seres pudessem deles utilizar-se. Na Doutrina dos Espíritos, quando refletimos sobre o processo da evolução, como uma Lei Divina de progresso contínuo e ordenado, não podemos ter dúvidas de que as constantes encarnações são bênçãos sagradas que propiciam o aperfeiçoamento dos seres. Assim, o jovem recebe do ancião o conhecimento das tradições de seu povo, pelo registro da memória. Cada vez que vivenciamos uma nova oportunidade reencarnatória dinamizamos impressões guardadas em nossa consciência espiritual.
Nesse sentido, através da obra narrada por Arnaldo Rocha e escrita por Carlos Alberto Braga Costa, somos convidados à leitura de experiências de vida, sem sensacionalismos, mas repletas de sabedoria. O livro, apesar de apresentar-se numa seqüência de 21 capítulos, pode ser lido conforme o leitor desejar, pois cada uma de suas partes está impregnada de amor à Doutrina dos Espíritos e fidelidade aos ideais cristãos deixados ao longo da história por Grandes Amigos Espirituais.