segunda-feira, maio 25, 2009

Verônica, a Hemorroíssa

Na sexta feira, 22 de maio último, tive a felicidade de discorrer na Escola Jesus Cristo sobre a mulher hemorroísssa, do Novo Testamento. Como me trouxe muita alegria falar sobre essa mulher corajosa e virtuosa, chamada de fiha por Jesus, que tomado por uma inspiração repentina, fiz modesta poesia em honra a chamada Verônica.


Flávio Mussa Tavares


Para uns se chamava Berenice,
Verônica para outros.
De alegria cativante, esta mulher,
Secou a lágrima de um enfermo e disse:
-Coragem amigo, pois nosso Deus é esperança.
Agia assim desde criança.

Casou-se com jovem construtor.
Tiveram um filho, fruto de amor.
Entretanto, um tumor
Causou-lhe prolongada hemorragia.
Além de terebrante dor,
Era uma doença que lhe constrangia.

De acordo com a legislação
Tornara-se toda impura.
Nada mais ousasse tocar.
Estava sob tremenda maldição.
E esse seu mal não tinha cura.

De longe viu o filho a crescer
Sem poder amamentá-lo.
Ansiava ao colo tomá-lo,
Sonhava o esposo ter.
Todavia, a tradição
Expressa na Torah,
Enquistou-a em seu lar,
Oprimindo-lhe o coração.

Impedida de o filho criar
E de ser uma esposa de fato,
Assistiu seu esposo a deixar.
Não mais viu o recém nato.

Percorre uma via crucis
De esculápio a esculápio.
Muitas promessas à infeliz
De louco, charlatão e larápio.

Alijada do convívio social.
Nunca era vista nas ruas.
Absorvida em seu próprio mal,
Nem família e casa eram suas.

Decretada impura pela religião,
Dos velhos profetas de Israel.
O Levítico relegava-a a solidão,
Pois dizia que seu toque era fatal
Inoculando tudo alcançasse,
Com os miasmas de seu mal.

Ventos lhe trouxeram, entretanto,
Notícias de um taumaturgo
Que corria as estradas empoeiradas
Da Judéia, Galiléia e Samaria.
Curou Bartimeu, restaurou Maria.
Levando, assim, a paz a cada burgo.

Bem afamado este profeta se tornou.
Ensinava o homem a ser como criança.
Levantava os caídos falando-lhes do amor.
Esse santo, então, concentrou sua esperança.

Avistou-o, enfim, um dia.
Seria verdadeira a imagem que via?
Um homem irradiando tanta luz!
Seria a solução de seu destino
Aquele fogo no seu mediastino?
Disseram a ela que seu nome era Jesus.

Mas como apresentar-se a ele?
Como falar-lhe do seu mal?
Iria transgredir a lei e o tribunal.
Tocaria o manto dele,
E sararia afinal.

Aproximou-se pela retaguarda
Movida por coragem e tanto.
Por uma abertura nada larga
Tocou a orla de seu manto.

Foi então que sentiu atravessar seu dorso
Uma força que desconhecia.
Algo que um de nós, hoje, diria:
-Foi uma corrente elétrica,
Que lhe alcançou todo o corpo,
Deixando-lhe extática.

Após esse indescritível frenesi
Percebeu um misto de harmonia
Com o tremor que ainda sentia
Dentro de si.

Secara-lhe a fonte da hemorragia
E antes que pudesse afastar-se dali,
Jesus pára e desconfia
Que alguém o tocara ali.
Diz Pedro, o primeiro do time:
-Como saber? Se a multidão o comprime?
Mas sabe Jesus a que alude,
Pois viu e sentiu de si sair
Uma virtude!

Temendo e ainda tremendo, a ex-hemorroíssa,
Arriscou um julgamento com sua confissão.
Disse, prostrando-se no chão:
Fui eu Senhor, cometi uma injustiça?

Falou Jesus, todo bondade:
-Verônica, minha filha
Esteja curada de tua enfermidade
Sei que sabes quem eu sou
Mas creia que a verdadeira maravilha
Foi tua fé que te salvou!








sábado, maio 09, 2009

NÃO EXISTE MAIOR AMOR DO QUE ESTE, Clóvis Tavares


Clóvis Tavares



Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. Jo 15:13

Um jovem chinês, Té-Ha-Tá caminhava por uma estrada ao cair da tarde. Olhava ao longe as montanhas nevadas do Tibete, onde os velhos monges elevavam suas orações ao Senhor da Compaixão.
A uma volta do caminho, sobre uma eminência de pedra, surge repentinamente, para espanto e terror do jovem, um vulto que ele não tardou a reconhecer: era o pavoroso Han-Ru, o Anjo da Morte.
Té-Ha-Tá pressentiu no seu coração a desgraça para sua vida. O terrível anjo da destruição estava próximo a casa de sua noiva, a meiga Li-Tsen-Li...
O jovem perguntou atemorizado:
_Que fazes, Han-Ru, aqui perto da casa de minha noiva?
Pacientemente, o emissário do destino respondeu:
_É justa a tua inquietação, ó jovem. Vim a este recanto da Terra, buscar justamente Li-Tsen-Li. Na sabedoria das Leis divinas, está determinado que tua noiva cumpriu o tempo de sua vida neste mundo. É chegado o dia final de seu destino.
_Piedade, piedade, Han-Ru! É tão linda tão meiga minha noiva. Amo-a loucamente e tudo faria para salvá-la. Por Amor de Maia-Dêvi, deixa viver Li-Tsen-Li!
O Anjo da Morte silenciou, em profunda meditação e depois respondeu solenemente:
_A ti, devoto de Maia-Dêvi, é permitido obter uma graça do Céu. Podes prolongar a vida de tua noiva sob uma condição. Tens direito a uma vida longa e tranqüila, Te-Há-Tá. Restam-te ainda, agora vais saber, quarenta e seis anos de vida. Podes, entretanto, e esta é a condição ceder à tua noiva metade do teu tempo que te resta na carne. Li-Tsen-Li poderá viver em tua companhia, vinte e três anos, a metade do restante de tua vida. Terminado este prazo, ambos morrerão juntos, no mesmo instante. Aceitas a proposta?
Te-Há-Tá hesitou. Hesitou. Ceder a metade de sua vida? Sacrificar vinte e três anos em favor de sua amada? Que fazer? Que responder ao Anjo da Morte?
_Tua proposta, Han-Ru, é imensamente grave para mim. Podes esperar minha resposta até que eu ouça a opinião de meus três melhores amigos, que sempre me orientam na vida?
_Sim, ó jovem. Aguardarei, aqui mesmo tua resposta até antes do amanhecer.
Nessa mesma hora (já anoitecera...) Te-Há-Tá partiu lépido, em busca dos três conselheiros de sua vida.
O primeiro era um artista tibetano. Um escultor famoso. Seu conselho foi franco e sincero: a vida só é digna de ser vivida quando alimentada por uma grande e puro amor. E não existe amor verdadeiro sem renúncias e sacrifícios.
_Serás feliz Te-Há-Tá_ disse o artista_ se puderes demonstrar a grandeza de teu coração, medindo-a pela extensão de um ingente sacrifício. Pela mulher amada o homem deve sacrificar, meu amigo, não metade de sua vida, mas a existência inteira.
Esse foi o conselho do primeiro amigo.
Te-Há-Tá buscou o segundo conselheiro, um jovem mercados de peles, Nian-Si. Cientificado dos acontecimentos, respondeu o segundo amigo:
_É uma proposta louca, Te-Há-Tá! Onde já se viu um moço rico e cheio de saúde, como és, sacrificar a metade da vida por causa de uma mulher? Sem desprezar os valores e perfeições de tua noiva, digo-te que encontrarás por toda a parte, aqui no Tibete, atrás destas montanhas, milhões e milhões de mulheres lindas, tão lindas e tão belas como tua noiva... E quem pode prever o futuro, meu amigo? E se amanhã, dominada por uma paixão, Li-Tsen-Li te abandonar, esquecida do teu sacrifício e for viver, junto de outro coração, a vida que é uma parte de tua própria vida? Loucura, loucura, meu pobre Te-Há-Tá...
Em face das opiniões antagônicas dos seus dois amigos, cresceram a dúvida e a indecisão ainda mais no coração de Te-Há-Tá. E nesse estado mental, dirigiu-se à casa do seu velho e sábio conselheiro, o estudioso Kin-San.
O terceiro mentor assim opinou ao desorientado rapaz:
_Meu caro Te-Há-Tá, se amas realmente tua jovem noiva, deves ceder-lhe metade do teu tempo que te esta viver. Convém impor, entretanto, uma condição ao Anjo da Morte. A parcela de vida que cederes à tua noiva, poderá ser retomada por ti, a qualquer momento, em caso de infidelidade de tua futura esposa. Se ela se mostrar indigna do teu sacrifício, perderá o direito ao tempo de vida que lhe foi cedido. Fora disso, Te-Há-Tá, seria loucura. Fizeste bem em hesitar, sendo prudente. Só os insensatos é que nunca hesitam.

***

O jovem noivo aceitou a terceira solução, que imediatamente antes do amanhecer, levou ao Anjo da Morte.
O mensageiro divino aceitou a proposta de Te-Há-Ta e lhe respondeu:
-Está bem, Te-Há-Ta! Tua bondosa noiva Li-Tsen-Li viverá mais vinte e três anos. Esta parcela de vida não foi, porém dada e sim emprestada.
E o Anjo da Morte desapareceu.
O jovem Te-Há-Ta casou-se com Li-Tsen-Li e dentro de algum tempo eram considerados os esposos mais felizes de toda a região do Tibete. Li-Tsen-Li, após o matrimônio, passou a chamar-se Til-Long-Li, que quer dizer Minha Vida Querida.
Um dia, Te-Ha-Tá teve que fazer uma longa viagem e deixou sua amada esposa e um filhinho de poucas semanas em casa de seus pais. Quando regressou, alguns meses depois, teve a dolorosa surpresa de encontrar seus três amigos, de fisionomia triste e abatida, a sua espera, à entrada da povoação em que vivia. Seu coração sobressaltou, não vendo a esposa à sua espera.
-Onde está Minha Vida Querida?Por que não veio se lhe mandei aviso de meu regresso?
-Enche de coragem teu coração, ó Te-Há-Tá: uma grande desgraça, há três dias, caiu sobre tua vida...
-Desgraça? Que foi? Digam-me, digam-me a verdade. Onde está minha esposa?
-Morreu, meu amigo_ respondeu o mais velho.
-Morreu? Não é possível. Não é possível... Eu sacrifiquei Por ela metade de minha vida...
E o jovem, em pranto convulsivo, começou a blasfemar contra o Senhor da Compaixão. Erguia os braços para o Céu, punhos cerrados, em furor, revoltado, blasfemando o Santo nome de Deus...
Os amigos se afastaram, deixando-o dar expansão à sua angústia e sem poderem demove-lo de sua revolta.
Eis senão quando, no auge de nova explosão de sofrimento, surge diante do moço enlouquecido de dor, a figura de Han-Ru, o Anjo da Morte.
-Han-Ru, faltaste à tua palavra... Onde está minha esposa? Que fizeste de Li-Long-Li?
-Acalma-te e escuta, Te-Ha-Tá. Devo dizer-te a verdade, a fim de que não continues a blasfemar contra o Senhor da Compaixão. Tua esposa, bem sabes, deveria viver mais vinte e três anos. Há poucos dias, porém, o teu filhinho adoeceu gravemente e iria morrer. Que fez tua esposa? Pediu a Deus em comovedora oração, que a vida dela fosse dada ao pequenino enfermo. Que a criança pudesse viver, embora com o sacrifício de sua vida. E assim aconteceu, Te-Ha-Tá. Salvou-se o teu filho, mas a tua esposa, morreu...
E diante do assombro do jovem aflito, o Anjo da Morte, concluiu:
-Enquanto tu, como noivo, hesitaste em ceder-lhe a metade de tua vida, ela, mãe extremosa, não hesitou um segundo sequer, em dar, pelo filhinho, a vida inteira...

***

Esta jovem mãe tibetana é um símbolo, uma imagem de nossas mães amadas, a quem hoje rendemos homenagem. Elas são realmente, como conceituava Almeida Garret, “a mais bela obra de Deus”. Seu amor nos acompanha todos os dias da vida e além da morte. Sua imagem torna-se escudo de nossas almas, alimento de nosso coração, síntese das afeições humanas. Seus sacrifícios ocultos são muitas vezes o preço de nossa formação moral. Suas lágrimas afiançam diante de Deus, sem o sabermos, a proteção do Céu sobre as nossas vidas.


( Do livro SAL DA TERRA, Scortecci, 2005)

sábado, maio 02, 2009

Clóvis Tavares e Pietro Ubaldi


Ano de 1951. Clóvis Tavares é o intérprete de Pietro Ubaldi em incontáveis conferências por todo o país.

Esta foto , ainda desconhecida de muitos de nós, mostra Pietro Ubaldi, na sala de estar da casa de Batista Lino, da LAKE. Clóvis está ao fundo com um menino ao colo, que acredito ser o pequeno Batuirinha .