segunda-feira, maio 28, 2007

SOU CONTRA O ABORTO... E AÍ?

Apresento a todos a carta e mim enviada pelo meu amigo médico e escritor, Gilberto, enfatizando o seu ponto de vista genuinamente cristão sobre a questão social e espeitual envolvida com a prática do abortamento.

Flávio Mussa Tavares


SOU CONTRA O ABORTO... E AÍ?

De Gilberto Ribeiro Vieira

Eu sou contra o aborto. Acredito que todo o cristão, em sã consciência, também o seja.

A primeira contribuição que devemos oferecer é não praticar o abortamento em nenhuma circunstância. Portanto, é indispensável prevenir. A única prevenção absolutamente segura exige abstinência sexual, e sabemos que constitui uma alternativa para poucas pessoas. Manter atividade sexual tornou-se uma espécie de direito indeclinável para quase toda a humanidade. Porém, eu continuo acreditando que exercer algum controle sobre a sexualidade – variável para cada grau de evolução – representa meta de ascensão espiritual. Assim, não convém se entregar ao intercâmbio sexual, sem a regência do sentimento. Note-se que, anatomicamente, o coração se localiza acima da genitália. Fazer sexo, na ausência de afeto, significa dar vazão ao instinto e perder o norteamento indispensável.

Conquanto para muita gente, a afeição justifique a interação sexual, uma minoria requisita de si mesmo um elemento a mais, que se pode resumir através da palavra compromisso. Portanto, além do carinho, da simpatia ou do amor que o atrai na direção da outra pessoa, o indivíduo mais maduro estabelece em sua própria consciência o dever de arcar com toda e qualquer conseqüência que advenha do intercurso sexual. Registre-se que, simbolicamente situada na cabeça, a consciência encontra-se, pois, acima do coração.

Desse modo, o relacionamento sexual de um sujeito mais sensato mostra-se uma iniciativa bastante complexa, envolvendo afeto e comprometimento. Anda no mundo, sem ser do mundo. Vê as inúmeras complicações que as criaturas se metem por conta do prazer sexual desavisado e elege a porta estreita da renúncia e da fidelidade. Numa época em que a sexolatria impera e o erotismo campeia desbragado, o cristão verdadeiro destoa da grande massa. Ele sabe que a região do quadril é onde fração expressiva da humanidade transita, temporariamente, em sua evolução rumo a estágios mais altos. É nesse nível que a força espiritual se agita e arrasta as figuras invigilantes a dolorosos desregramentos. O discípulo do Evangelho analisa, pondera e escolhe a atitude prudente de evitar o contato sexual, a menos que exista afeto e somente quando já lhe seja possível assumir uma eventual gravidez, ainda que não desejada. E, em qualquer circunstância, havendo intimidade sexual, utiliza os recursos anticoncepcionais, de preferência, associando o preservativo com algum outro.

Sou contra o aborto. A segunda contribuição que podemos oferecer é amar os nossos filhos, sem queixas pelo trabalho que a manutenção ou a educação deles reclama de nossas forças e de nosso tempo. É imprescindível amá-los com alegria. Declarar de cima dos telhados a nossa gratidão por essa tarefa bendita. Seja qual for a dificuldade, seja qual for o problema, seja qual for a angústia que, por causa deles, venhamos a experimentar, a cada dia renovaremos nossa disposição e nosso carinho. Antes de tudo, nós os aceitamos quais são, depois os educaremos, pacientemente, tendo em vista que aprendemos com Kardec a primeiro amar e só então, instruir. Dessa maneira, nós demonstraremos aos vacilantes em tomar o fardo da progenitura que, de fato, vale a pena ser pai/mãe já que o júbilo e a amizade permanecem acima de todas as aflições e aborrecimentos.

Sou contra o aborto. A terceira contribuição que nos cabe aduzir é não compactuar com a realização de qualquer abortamento. Advertir e esclarecer qualquer um que nos cruze os passos abrigando tal objetivo, destacando os aspectos positivos e sublimes da pater/maternidade. Quem sente amor pelos filhos, pelas crianças, pelo próximo, pode contagiar a pessoa que hesita ou que se dispõe ao gesto infeliz, insuflando-lhe coragem, esperança ou resignação.

Sou contra o aborto. A quarta contribuição que podemos ofertar é não incriminar os que cometem a sandice de matar o próprio filho. Existe loucura maior do que esta? Exterminar uma criatura indefesa no próprio ventre, a quem se deveria amar incondicionalmente? Só uma pessoa transtornada e inconsciente de si mesmo e da venturosa missão familiar perpetra um crime tão abominável. Diante desse alienado não é lícito ao cristão o uso do açoite ou da punição. Basta ao doente a loucura em si mesma. Ou haveremos de transferir todos os dementes para as penitenciarias? É necessário tratá-los, cuidando de suas perturbações. Em momento algum o Cristo se alia aos condenadores, mesmo quando alicerçados no direito vigente. Segundo a legislação dos judeus, a mulher adúltera deveria ser apedrejada. Era a lei! Jesus, entanto, recomenda que atire a primeira pedra aquele que esteja sem pecado. O discípulo do Evangelho está convocado para implantar a lei do perdão nas consciências. Mas, ele não pode cruzar os braços diante da dor de milhões de fetos, cujo choro não chega a ser emitido, arrancados violentamente das entranhas maternas. Acrescente-se que incriminar o aborto significa conformar-se com a injustiça, porque se condenaria, frequentemente, a mulher e, bastas vezes, o homem é o principal responsável, ora pela indução, ora pelo abandono.

O Movimento da Fraternidade deve ser contra o aborto e trabalhar ativamente para reduzi-lo entre os fraternistas ou naqueles que freqüentam suas atividades. Em especial, preparando e direcionando orientadores para dialogar com jovens e adolescentes sobre a sexualidade. É recomendável ter um discurso isento de preconceitos e de expectativas exaltadas de sublimação, incompatíveis com o grau evolutivo do ser humano ou da fase cultural em que vivemos. Os fraternistas, podemos e devemos ter alguma iniciativa para minorar esta tragédia planetária, mas que passe muito longe de acentuar o remorso – esses pais faltosos irão despertar um dia, e ai deles, pois muitos ressecarão suas potencialidades germinadoras ou lesionarão gravemente seus próprios órgãos reprodutivos. Precisamos nutrir compaixão por eles e não sentenciá-los. Imagina se o Cristo se juntaria, hoje, com os fomentadores de culpa!

“Simão, uma coisa tenho a dizer-te. Dize-a, Mestre. Um certo credor tinha dois devedores: um devia-lhe quinhentos dinheiros, e outro cincoenta. E não tendo eles com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Dize, pois, qual deles o amará mais? E Simão, respondendo, disse: tenho para mim que é aquele a quem mais perdoou. E ele lhe disse: julgaste bem.” (Lucas, 7:40-43).

Ser contra o aborto é fácil, o desafio é perdoar e realizar algum trabalho de prevenção ou de assistência em favor dos que cometeram o ato.

Então, amigos, é isso. Depois desse arrazoado, eu lhes pergunto: o que é pior, matar o próprio filho, num surto de insanidade espiritual, ou incriminar este louco, dispondo de uma razão lúcida?

Abraços,

Gilberto

sábado, maio 19, 2007

Sou espírita, mas não sou santo...

Li um tópico sobre essa frase numa comunidade espírita do Orkut e resolvi tecer alguns comentários. A maioria de nós, já escutou essa frase, sempre expressa no sentido de uma desculpa prévia por alguma grosseria, irritabilidade, impaciência, mágoa e até mesmo ira.

Certamente não somos perfeitos! E que tem isso em relação à nossa doutrina? Será verdade que é cobrado mais do espírita que de outros religiosos? Creio que sim. Eu mesmo já escutei diversas vezes nos meus deslizes emocionais a expressão: " ...e ele é espírita..." Nessas situações somos constrangidos a responder com a expressão acima: "É verdade, sou espírita! Entretanto não sou santo!"

O risco que se corre é o risco da Justificação viciosa, isto é sob o argumento de que não se é perfeito, vamos nos deixando levar pelos nossos hábitos de vidas passadas quando obedecíamos a nossa natureza impulsiva e irada.

Qual o objetivo da reencarnação? Diz a resposta da questão 132 de "O Livro dos Espíritos" :

"Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição. Para uns, é expiação; para outros, missão. Mas, para alcançarem essa perfeição, têm que sofrer todas as vicissitudes da existência corporal: nisso é que está a expiação. Visa ainda outro fim a encarnação: o de pôr o Espírito em condições de suportar a parte que lhe toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o Espírito um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo para a obra geral, ele próprio se adianta."

A resposta pode ser resumida em duas expressões: expiação e prova!

"Sofrer as vicissitudes da vida corporal." O que significa isso? Estar limitado física e/ou psiquicamente de modo a inibir a nossa compulsão para o erro, os nossos vícios. São as expiações restrições involuntárias. São determinadas por promotores da espiritualidade de modo a bloquear os hábitos que a maneira de programas informatizados, instalamos em nossos perispíritos na sucessão das existências sucessivas e solidárias. As limitações biológicas, seja nos membros, seja no cérebro bloqueia a nossa via do erro. Nossa predisposição a errar está então travada. Suicidas contumazes não mais o praticam sem os membros superiores, vigaristas, jogadores, drogadictos, todos compulsivamente enovelados na trama das reencarnações tem bloqueios neurológicos que lhes inibem a repetição. Estas vidas limitadas física e mentalmente são acompanhadas de outros aprendizados. São treinos na humildade, na paciência das fisioterapias, fonoaudiologias, psicopedagogias, todas levadas a cabo por heroínas das libertações das almas caídas.

A expiação é assim, uma educação corretiva, um processo de cura da alma, pois se por um lado mutila a carne, liberta-se o espírito.

A provação é outra classe de restrição biopsíquica, pois é voluntária. A prova é o momento do testemunho diante de Deus e dos homens. É o momento de viver as penas do corpo, para provar a mudança de caráter. A prova é um estágio superior da nossa evolução, pelo menos em se tratando da faixa evolutiva mediana de nosso planeta. As missões são estágios ulteriores ainda pouco comuns ao ser humano. Somos uma humanidade em expiação e provas, uns ainda involuntariamente bloqueados nas práticas dos seus erros prediletos, outros conscientemente deliberados a restringir as liberdades e facilidades da vida, para desenvolver os atributos mais nobres da humildade, da caridade, da espiritualidade.

Não sou santo, no entanto sou espírita! Essa nova arrumação das palavras nos permite cumprir a primeira sentença da resposta à questão 132: "Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à perfeição."


Não somos santos, mas devemos a cada dia depurar a nossa mente. Bem aventurados os puros de coração! Isto é, Felizes os que destilam a sua alma das paixões viciosas. Felizes os que trabalham no esclarecimento de si mesmos, reprimindo a revolta da alma, reprimindo o sentimento de mágoa, reprimindo o hábito da crítica ácida, da ironia, os momentos de irritabilidade. E como fazer isso? Exercitando-se nas pequenas ocorrências de nossa vida diuturna. É na prática diária da tolerância com os nossos irmãos adversários que sentiremos a mão delicada de Deus, oferecendo-nos oportunidades para treinar a paciência e o perdão. É na permanência no ambiente aparentemente desfavorável do nosso trabalho, de nossa família, de nossa instituição religiosa que exercitaremos a humildade, a tolerância, a esperança e desse modo, corrigiremos lentamente, progressivamente nossas viciações psíquicas de milênios no egoísmo. Humilhações, frustrações, dificuldades, fazem parte do repertório de nossas necessidades anímicas que devem nos induzir a repensar a frase e inverter a ordem nessa nova forma: Não sou um santo, mas como espírita, exercitarei a paciência. Não sou um santo, mas como espírita, exercitarei a tolerância.

Não sou um santo, mas como espírita, exercitarei o esquecimento das mágoas, a princípio forçando a minha natureza, depois sendo perdoador por natureza.

Diz Pietro Ubaldi, que a evolução de nosso psiquismo será tal que no futuro, o amor será instintivo.

O capítulo 17 de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de Allan Kardec, tem uma inesquecível passagem sempre recordada pelos que estão nessa laboriosa tentativa de conversão psíquica:

"Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más."

Em outras palavras poderíamos dizer: O verdadeiro espírita é aquele que tem uma imagem sincera de si mesmo, sabe mirar-se no espelho da autoconsciência e emprega todas as forças possíveis para reprimir seus momentos de falta de moderação, de falta de calma, de falta de perdão, de falta de piedade, de falta de paciência.

Somos constrangidos à prática do bem e é por isso que o Mahatma Gandhi, ao responder a uma pergunta de um repórter, se era um santo que queria ser político, respondeu com presença de espírito notável:


“Os homens dizem que eu sou um santo, perdendo-me a mim mesmo em política. O fato é que eu sou um político fazendo o máximo possível para ser um santo” (Gandhi apud Fischer, 1984).

domingo, maio 06, 2007

ORFANDADE ESPIRITUAL


Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa.

Jo 19:26-27

Somos todos partes vivas da história deste mundo e Jesus Cristo, nosso Senhor e Mestre, viveu a Sua história pessoal em absoluta harmonia com os elementos cósmicos. É por isso que os relatos de Sua existência são valiosos em se tratando dos sermões, sejam doutrinários, proféticos ou parabólicos e também tratando-se dos elementos factuais da mesma. É assim que é importante anotar os fatos narrados de vida pública e privada do Mestre, pois ali estão simbolismos que podem nos ser úteis em alguns dilemas de nossa vida. Quantas situações conflitantes podem ser solucionadas se observarmos as decisões pessoais de Jesus. Quantas tomadas de decisão podem ser assumidas por nós se nos detivermos em certos detalhes da vida do Cristo, quando foi ele vitima da calúnia e da crueldade, nascida da intolerância religiosa.

Jesus disse que não viera ao mundo trazer a paz , mas a espada (Mt 10:34), reconhecendo de antemão que muitos aspectos de seus ensinos e da própria vida seriam palco de celeuma religiosa.

Quero deter-me no momento culminante de vida de Jesus, quando já aprisionado à cruz, divisou a Sua Mãe. Observou que estava Ela acompanhada de João. Designou então que Ela o adotasse por filho e que este a protegesse em sua nova fase, de mulher viúva que perdera seu único filho. Aos que duvidam de que Maria tinha como filho apenas Jesus, que respondam o por que dessa determinação de seu filho, como se fosse um último pedido.

Como poderia uma mulher judia, viúva, abandonar seus filhos e sair a viver com um jovem em outra cidade?

Como entender essa situação, se não reconhecendo que estava Maria na mesma situação da viúva de Naim, de quem Jesus se apiedou um dia.

São fatos da vida de Jesus que devem ser anotados e entendidos como instrução doutrinária. Jesus havia curado o servo do centurião à distância e dirigia-se à cidade de Naim. À entrada viu o cortejo fúnebre de um jovem que era filho único de uma viúva. Diz o texto de Lucas, capítulo 7, versos 11 e seguintes: "movendo-se de íntima compaixão, disse à viúva: Mulher, não chores!" Dirigiu-se ao moço, chamou-o, ordenando-o que se levantasse e entregou-o à mãe. O que é mover-se de íntima compaixão? É uma alta freqüência de simpatia, de empatia, de sofrer junto, de tomar para si a dor do outro.

Pois a mesma compaixão que sentiu Jesus da viúva de Naim, sentou algum tempo depois, já atado ao madeiro do martírio infame, de Sua própria Mãe. Não podendo oferecer-se a si mesmo como o protetor daquela viúva, escolheu o seu discípulo mais novo. E escolheu a João por que estava com Maria ao pé da cruz ou por que precisava de um filho para Sua Mãe? Assim como para a mãe triste da cidade de Naim, devolveu Ele um filho, para Sua Mãe precisava oferecer um adolescente, que sentisse em si mesmo a necessidade de proteção materna. E ofereceu também um novo filho, como prevenção da melancolia da fase idosa de Sua Mãe. Um filho, um filho escolhido entre aqueles com quem convivera por três anos.

O apóstolo Pedro também não entendeu o motivo de Jesus haver dito na última ceia que precisaria da João na Terra por muito mais tempo e pergunta a Jesus: " Senhor, e este? Que será dele?" (Jo 21:21) Jesus queria, como disse a Pedro que João vivesse até o Seu retorno, que permanecesse, que cuidasse de Maria até o fim, que fosse o médium da revelação apocalíptica e disse então a Pedro que isso não lhe dizia respeito.

Jesus escolheu a João, o mais novo, para ser não apenas o protetor de Maria, mas também para ser seu tutelado espiritual.

Concedeu assim, representando a humanidade em João, seu amado filho, uma Mãe espiritual para todos.


Mãe, eis os Teus filhos! Filhos, eis aí a vossa Mãe!


Esta é a conseqüência conceitual da ordem crística no momento da Sua morte.

È essencial que aceitemos de Jesus o convite para sermos Seus irmãos, pela maternidade espiritual de Maria.

Maria, Mãe de todos os sofredores, que de Éfeso converteu-se na maior discípula de Seu filho, confortando os corações oprimidos com o perfume do Amor infinito da rosa mística de Nazaré.

É por isso que neste Dia das Mães, quero oferecer à minha Mãe, à minha esposa, às minhas filhas, à minha irmã, à minha nora e à minha neta um delicado ósculo espiritual, recordando a presença luminosa deste anjo cósmico que é Maria, Mãe amorosa de todos nós.

E quero declarar também que não quero ser órfão de Mãe no Céu!

Mãzinha do Céu, eu a almejo como minha Mãe espiritual, ofertada por Jesus no momento derradeiro de Sua passagem salvadora por este mundo, na pessoa de João, à toda a nossa humanidade.

Quero fazer parte da parcela da humanidade que aceita a oferta de Jesus e, humildemente, peço à Senhora, Mãe excelsa, que vele por nós pobres pecadores, agora e na nossa hora extrema, assim como velaste até o fim, por Teu filho, Nosso Senhor e Nosso Mestre.

Assim Seja.

terça-feira, maio 01, 2007

LEI DE LIBERDADE


Tem o homem o livre-arbítrio de seus atos?
"Pois que tem a liberdade de pensar, tem também
a de obrar.
Sem o livre-arbítrio, o homem seria
máquina."
Livro dos Espíritos, questão 843

A Liberdade é condição essencial do homem sobre a Terra. É um dom preter-natural, ou seja foi forjado juntamente com o espírito pela mãos divinas. Imagem e Semelhança refere-se principalmente à esta faceta humana, ser livre. Essa condição natural é tratada no capítulo X da terceira parte de "O Livro dos Espíritos". Somos livres enquanto dotados de livre-arbítrio, mas a vida em sociedade nos impõe as limitações necessárias ao abuso, a ganância e ao totalitarismo.

A primeira forma de Legislação veio a Terra por meio da mediunidade de Moisés, no momento em que o povo hebreu após quatro séculos de servidão no Egito, ansiou e arriscou-se na jornada em busca da Liberdade. A liberdade é então um marco na nossa história. Foi a sua busca que nos proporcionou a recepção da primeira Revelação de Deus ao mundo. Moisés legislava e o povo lhe obedecia, sustentado pela promessa divina. Deixou o povo judeu no Egito, pequenas propriedade, alguma posse material, alguns animais. E visando um sonho contido em profecias de seu povo, trocaram a estabilidade mesquinha da terra da servidão, pela instabilidade promissora da terra prometida. Trocaram a mediocridade pela oportunidade, arriscaram tudo por uma promessa. Saíram do Egito, como Abrhão havia deixado a Caldéia, apenas com uma promessa divina de uma Terra dadivosa. Durante essa prolongada e tormentosa travessia, alguns tiveram saudade da servidão e dos velhos ídolos do imediatismo e da idolatria, mas Moisés foi enérgico e proibiu entre eles práticas que recordassem o período em que eram escravos, em que não tinham dignidade, em que não eram homens. Não há preço para a Liberdade. Todos os povos a almejam em todas as épocas da humanidade. Todos os povos submetidos ao imperialismo rebelaram-se e nesse particular, a Epopéia judaica da travessia do Mar Vermelho é incomparável. Erich Fromm refere-se ao Medo à Liberdade, que é o mesmo do pássaro que nasce no cativeiro e não sabe deixar a gaiola se aberta, e se deixá-la fenece.

Stephen King filmou um épico do cinema "Um Sonho de Liberdade", estrelado por Morgan Freeman e Andy Dufresne, onde prisioneiros de uma cadeia pública eram condenados à prisão perpétua por causa do autoritarismo corrupto de um cruel diretor. Quando um velhinho que cuidava da Biblioteca da prisão é libertado, vai para uma cidade e um tempo onde não conhecia mais nada e na melancolia extrema de lutar pela sobrevivência como empacotador de um supermercado, suicida-se. O medo da liberdade foi mais forte que o sonho dela.

Do sonho de Liberdade dos judeus, nasceu a Revelação. Apenas o anseio de liberdade poderia temperar o espírito do ser humano para compreender a Lei de Deus. Ali está o código sintético da Ética na Terra. Em primeiro lugar, Reverência à Deus e ao Seu nome. A seguir, reverência aos nossos progenitores, honrando o seu nome e a sua memória durante toda a nossa vida. E então, uma série de proibições, de limitações à nossa ação que longe de ser restrição à liberdade, são uma educação para ela. Sim, por que a questão 826 nos explica que apenas o eremita no deserto não deve seguir regras. Se estamos em Sociedade há que se respeitar a vida em comum e a nossa natureza de filhos de Deus. O decálogo é a síntese perfeita da ética na Terra. Segui-lo é o primeiro passo para se alcançar a Liberdade plena. Por isso não há como fugir da necessidade de educação. Por isso que Allan Kardec nos deixou a frase lapidar de O Espírito de Verdade: "Espíritas: Amai-vos! Eis o primeiro mandamento. Instruí-vos, eis o segundo!"

Instruir-se é conquistar cada vez mais a liberdade. É necessário conhecer a Lei. "Conhecereis a Verdade e esta vos converterá em homens livres"! Jesus expressou com perfeição, aprender a Lei é libertar-se!

A codificação espírita tem o grande mérito de embasar-se na razão! É através da cerebração dos postulados cristãos, que os internalizaremos em nossas consciências. Estamos há dois milênios aprendendo com o coração. Agora o cérebro precisa aprender apensar com a lógica cristã. É necessário que racionalizemos a nossa Fé para que os edifícios construídos a partir dela, não continuem a ruir como tem sido com as construções espirituais ao logo destes vinte séculos de mensagem cristã.

Somos espíritos em evolução, em passagem. A Fatalidade da Lei só é real para a determinação de nossa morte. Todos os outros momentos de nossa vida que aparentam fatalismo, são na verdade efeitos de ações por nós perpetradas no passado. Livremente agimos e havemos de colher os frutos que conscientemente semeamos. Disse-nos Paulo de Tarso:

Não vos enganeis: de Deus não se zomba. O que o homem semeia, isso mesmo colherá. Quem semeia na carne, da carne colherá a corrupção; quem semeia no Espírito, do Espírito colherá a vida eterna. Não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo colheremos, se não relaxarmos. Gl 6:7-9

Arremessamos livremente dardos em nosso passado cujas trajetórias compõem hoje o que chamamos destino, mas que são apenas as conseqüências das nossas ações conscientes.

Expiações e Provas são momentos específicos de nossa vida. No primeiro momento somos constrangidos a parar de errar pelas limitações físicas e mentais impostas pela Lei de Causa e Efeito, Ação e Reação ou Carma. No segundo momento estamos já amadurecidos, e instruídos para participar da Prova, dos testes. Na hora da prova, não há como pedir explicação. É a hora do julgamento, do juízo. Somos sustentados na hora da expiação, somos preparados para a hora da provação, mas não podemos pedir a ninguém para passar pelas nossas provas ou não podemos sofrê-las por ninguém. A cada um conforma as suas obras. O grande objetivo de Deus é a reparação.

Somos confrontados, pelas provações com as nossas tendências erradas, mas ao vencê-las com o exercício repetido da reencarnação, vencemos e trocamos os círculos viciosos de outrora, pelos círculos virtuosos da liberdade.

Santo Agostinho, revela em suas Confissões que roubava, na infância, as maçãs dos vizinhos, que havia em seu próprio pomar, apenas pelo prazer de pecar. A sublimação de seus instintos levou-o a descobrir o Prazer de Não Pecar.

Essa é a verdadeira Liberdade. Esse é o escopo de nossa vida!